terça-feira, 15 de março de 2011

UMA PESQUISA REFLEXIVA

Nos dias de hoje, tendo testemunhado a muitas tragédias do chamado ‘século de guerras e violência’, o século XX, chegamos a um ponto em que a humanidade finalmente é capaz de reconhecer e partilhar o desejo de Makiguti por um ‘século de humanismo e de paz’. Nós não podemos nos desviar desse objetivo agora.
O pensamento de Makiguti é atualmente expresso na forma de uma nova universidade dedicada à formação de pessoas, de cidadãos do mundo. Trata-se da Universidade Soka da América (SUA), que abriu suas portas no Condado de Orange, Califórnia, Estados Unidos, em 2001. A SUA possui quatro diretrizes ou missões:
Formar líderes de cultura na comunidade;
Formar líderes de humanismo na sociedade;
Formar líderes de pacifismo no mundo;
Formar líderes para a coexistência criativa da natureza com a humanidade.
“Esses objetivos representam hoje o pensamento e os ideais incorporados em Geografia da Vida Humana. As palavras ‘vida humana’ no título da obra de Makiguti referem-se à duração da vida dos seres humanos e às atividades de toda sua existência. Quando as pessoas são separadas umas das outras ou de seu local de atuação, não podem viver como verdadeiros seres humanos. Por esta razão, Makiguti explica em detalhes a relação entre as pessoas e sua localização geográfica. Em outras palavras, a obra é um estudo dedicado a descobrir como, enquanto fortalece as relações entre pessoas e seu meio ambiente, a cultura de sua sociedade e a situação internacional, pode-se melhorar o caráter humano, criar novos valores e enriquecer a sociedade e o ambiente natural.”
Com base nesses comentários a respeito da pessoa e da obra de Makiguti, percebe-se que ele defendia conceitos, como por exemplo:
1. O princípio de esho funi (inseparabilidade do ser e seu ambiente), que a nossa existência e o Universo são unos e funcionam em sintonia; cada vida é um microcosmo com o mesmo poder e dimensão do macrocosmo.
 A correspondência das partes e funções do nosso corpo com detalhes do Universo são a prova de que nossa existência é um verdadeiro microcosmo.

“Nossa cabeça é redonda como a esfera terrestre. O abrir e fechar os olhos são comparáveis ao dia e a noite. Nossos cabelos brilham como estrelas e nossas sobrancelhas são como as sete estrelas da Ursa maior. Nossa respiração é como o vento que sopra tranqüila e delicadamente pelos vales. Há cerca de 360 junções em nosso corpo, tanto quanto os dias do ano. As doze junções principais correspondem aos doze meses do ano. O calor da parte posterior de nosso corpo – o abdome e o estômago – são como a primavera e o verão. O frio e a solidez de nossas costas são como o outono e o inverno. Nossos vasos sangüíneos e artérias correspondem às correntes e os rios. Quando sofremos uma hemorragia cerebral, é como se um dique houvesse se rompido. Nossos ossos se assemelham às rochas e nossa pele e músculos a terra. Nosso couro cabeludo e os pêlos funcionam como florestas e bosques de altas e baixas densidades. As atividades da natureza como nuvens e vulcões, os elementos naturais como o ouro, a prata, o cobre, o potássio e o cálcio, dentre outros, que permeiam a terra, estão também incorporadas e são também essenciais, em medidas adequadas, ao nosso corpo. As infinitas partículas elementares do cosmo – os átomos, os prótons, elétrons, nêutrons etc. – correspondem aos microscópicos animais ou células, e ao bem e o mal naturalmente intrínseco. As leis porquanto identificadas pelos estudos da Física e todas as outras leis do Universo também se aplicam ao microcosmo do nosso corpo. Os seis trilhões de células de nosso corpo trabalham em ritmo e em ordem com essas leis. Nossa vida e o Universo são unos por um processo sublime e perfeito. Uma leve mudança no calor do Sol, por exemplo, afetaria enormemente não somente a Terra, mas também outros planetas. Se a rotação da Terra sofresse uma parada mesmo que momentânea, ou se seu eixo de rotação fosse desviado em graus mínimos, todo o equilíbrio da vida seria seriamente afetado”. Tsunessaburo Makiguti
2. O princípio de engui (origem dependente), a interdependência, afirma que nenhuma coisa pode existir em si, mas que ela está vinculada e conectada a todas as outras.
A mecânica quântica, uma das teorias subjacentes à física moderna, mostra que duas partículas, uma vez que interagiram juntas, conservam uma memória: mesmo que uma delas esteja agora em Andrômeda, a dois milhões de anos-luz, e que a outra esteja aqui, se uma for perturbado, a outra o sabe instantaneamente, sem nenhuma transmissão de informação. Que a realidade não é mais fragmentada, e sim holística e global”.[1]

  3. A impermanência ou transitoriedade: O espaço que nos rodeia está cheio de bilhões de partículas virtuais, de partículas fantasmáticas que aparecem e desaparecem em ciclos de vida e de morte em frações de segundos. Portanto, tudo evolui. 

4. A vacuidade que é uma conseqüência direta da noção de interdependência. A vacuidade não é o nada, mas a ausência de existência própria. De novo, reencontra-se esse conceito na mecânica quântica. Por exemplo: essa teoria diz que as partículas que compõem uma mesa, quando não são observadas, existem sob forma de ondas. É somente quando são observadas que se tornam partículas. Algo que é ao mesmo tempo onda e partícula. É preciso concluir que, as partículas que constituem o mundo, não tem realidade intrínseca.
            Eu entendia o que Sr. Makiguti vislumbrou na filosofia budista os meios pelos quais poderia concretizar o ideal de sua vida, incorporando o método do Buda ao seu método. Eu não conseguia passar todo esse conhecimento que chegou aos meus olhos e ouvidos para as pessoas. Foi lendo uma matéria do Flávio Dieguez[2], a seguir, que me deu um estalo.
A matéria é a seguinte:

O NADA É QUASE TUDO

Quase todo o Universo é formado de puro vazio. E esse vazio completo – o nada – é muito mais pesado que todo o resto do cosmo. Não entendeu? Os cientistas também não. Mas a história por trás disso é fascinante.
            A história das descobertas sobre o Universo tem sido uma humilhação atrás da outra para a humanidade.
            Um resumo: há 2 mil anos, imaginava-se que éramos o ápice da criação e do planeta, o centro do mundo. Mas a Terra acabou se revelando um dos muitos súditos do Sol, e o homo sapiens, um neto recente na genealogia dos macacos. Até o Sol, que foi um símbolo da divindade em outros tempos, não passa de grão de poeira brilhante entre incontáveis estrelas. O orgulho humano , naturalmente, ficou reduzido a praticamente nada.
            Mas eu disse nada? Não foi por acaso. É que não chegamos ainda ao fundo do poço – e o fundo do poço é justamente o nada. Nadinha de nada. Elimine todo tipo de matéria ou de radiação, até os gases mais rarefeitos e as menores partículas atômicas. Agora estenda a limpeza aos quatro cantos do espaço. Você criou um Universo vazio. Claro que isso é um absurdo – algo como uma laranja sem gomos nem casca.
            Mas vale a pena insistir nessa experiência imaginária  porque os cientistas que estudam o Universo fizeram algo parecido com ela. O que descobriram é, ao mesmo tempo, muito difícil de acreditar e praticamente impossível de contestar. Especialistas de várias universidades americanas, com base em imagens da radiação de fundo do Universo – o brilho que sobrou do Big Bang – chegou a conclusão de que, se você tirar tudo o que é possível do cosmo, toda matéria, todos os micróbios, as rochas, animais, galáxias, átomos, luz, ele ainda continua pesando três quartos do que pesava antes. Para ser preciso, restam 73% da massa original.
            Nenhuma pessoa sensata aceitaria a sugestão de que essa é a massa do nada. Só que os físicos, cosmologistas e astrônomos não são pagos para terem bom senso – sua obrigação é investigar o cosmo com todo rigor e descobrir do que ele é realmente feito, por mais estranho que possa parecer. Eles estão, há muito tempo, convencidos de que, mesmo num lugar vazio, existe alguma coisa. Mas nem essa gente tão acostumada à surpresas esperava que essa alguma coisa fosse a maior coisa que existe, a ponto de carregar, sozinha, três quartos da massa do Universo. O Universo é quase todo nada.
            Esse paradoxo é o mais impressionante e assustador de todos os pesadelos para o velho e cada vez mais distante sonho da humanidade – o de decifrar os segredos do cosmo. As descobertas são mais um golpe duro no nosso orgulho. Até porque, mesmo entre aqueles 27% que sobram quando excluímos o nada, 23% são, na verdade, um tipo bem estranho de matéria: a matéria escura, que contém esquisitices como os buracos negros, sobre a qual sabemos bem pouco. Nós – as coisas feitas de átomos, como pessoas, planetas, estrelas e galáxias – não passamos de 4% do total. Essa é a verdadeira medida da nossa insignificância cósmica.
            O mais chocante é descobrir, a essa altura dos acontecimentos, que somos grãos de poeira suspensos entre o nada. Não é muito fácil explicar o que isso significa. A saída é imaginarmos que o nada está embutido dentro do próprio espaço. Cada grama de matéria está permeado por uma imensidão invisível de nada. Esse material que estou mandando para vocês, nesse computador, contém toneladas de nada. E você, que está agora lendo – não me leve a mal – , está cheio de nada. Pense em uma malha muito fina escondida debaixo de cada trilionésimo de milímetro do cosmo e que atravessa tudo, inclusive os nossos corpos. Com um detalhe: essa malha é totalmente imperceptível e inofensiva em condições normais, mas é muito maior do que tudo o que está ‘acima’ dela. Caso contrário, não teria o peso que tem. Os cientistas costumam descrevê-la como um abismo imenso, escavado sob cada ponto do espaço. E até eles ficam assustados com essa imagem.
            “Quem garante que, neste exato momento, o Universo não está preste a ser tragado para dentro desse vazio?”, afirma o astrônomo americano Sten Odenwald[3], com a preocupação típica de quem sabe demais. “E se algum acidente nos laboratórios nos atirar para dentro do nada?” Odenwald é autor de um dos muitos livros recentes, todos escritos por cientistas perplexos com essa nova e contraditória cara da realidade. Logo na abertura de seu livro, ele compara a descoberta do nada às “constelações negras” dos incas – que, em vez de traçar desenhos no céu ligando as estrelas, admiravam e temiam as manchas escuras no céu, formadas pelas áreas sem estrelas. Estaríamos agora numa situação parecida: passamos séculos estudando pontos de luz, e agora descobrir que eles são meras exceções num cosmo repleto de sombras.
            Mas como é que os cientistas encontraram esse nada todo? Ele funciona mais ou menos como um sistema financeiro. Suponha que você é empresário, mas não tem capital. Então faz um empréstimo, aplica o dinheiro e quita a dívida com a renda do negócio. Resultado: você, que não tinha nada, não só devolve o que pegou como passa a ter alguma coisa. Essa também é a lógica que rege o comércio entre o espaço comum e o nada que permeia tudo: em certas ocasiões, o espaço pode emprestar um pouco de matéria do vazio. Por exemplo, quando se aciona um acelerador de partículas, um equipamento que provoca uma trombada gigante entre minúsculos componentes do átomo, surge da batida uma subpartícula que não estava lá antes. É que a enorme energia liberada puxa do nada (por empréstimo) um pedacinho de matéria que estava escondido lá. A diferença entre essa economia e a dos investidores é que nela não há chance de calote. Tudo que se pega volta automaticamente para o dono no prazo estipulado, incrivelmente curto. Nas finanças cósmicas, o giro do capital dura bilionésimos de segundos. As partículas que surgem somem quase imediatamente.
            Por isso o nada parece vazio: quem olha de relance não vê as transações e pensa que o lugar ficou vago o tempo todo. Só quando os físicos passaram a olhar o espaço com a atenção necessária, usando aceleradores de partículas e monitorando com imensa precisão o que acontece após uma colisão, começaram a perceber as entradas e saídas de matéria na contabilidade do vácuo. Mas ainda não se sabe que tipo de moeda está guardado no Banco Central do Universo – em outras palavras, ninguém entende bem como funciona toda aquela matéria escondida. Isso porque os empréstimos já chegam ao espaço usual convertido em moeda comum, ou seja, na forma de partículas conhecidas – como elétrons, prótons, fótons e similares. Ninguém os viu na forma como são normalmente.
            Nesse ponto, Odenwald tem razão. Estamos apenas começando a mexer com algo muito grande que não entendemos bem. Afinal, não é fácil emprestar partículas do nada. Elas surgem e tornam a sumir bem antes de percorrer uma distância equivalente ao diâmetro de um núcleo atômico. Daí por que o nada demorou tanto para ser identificado. Essas sub-partículas são notadas desde o início do século XX, mas naquela época apareciam em quantidades insignificantes – ninguém desconfiava que fossem tão importantes.
            Por sorte, o próprio Universo se encarregou de iluminar um pouco o alvo dos detetives. Foi quase sem querer, em uma pesquisa realizada com telescópios no Chile e em outras partes do mundo, em 1997. A idéia era verificar se a expansão do Universo perdia força. Só para lembrar, o cosmo nasceu há 14 bilhões de anos numa explosão apelidada de Big Bang, e de lá para cá vem crescendo. A expectativa, naquela época, era verificar que a expansão já estivesse mais lenta. Em vez disso, os astrônomos viram que ela está acelerando cada vez mais. Ninguém conseguia enxergar qual motor poderia estar expandindo o cosmo inteiro. A única possível explicação – tente adivinhar – é que todo o nada escondido entre a matéria a esteja empurrando.
            Todos os dados coletados desde 1997 confirmam essa hipótese, indicando que a aceleração cósmica pode ser uma das maiores descobertas de todos os tempos. As porcentagens da composição do Universo são a demonstração mais espetacular de que o nada é um poço sem fundo, cheio de energia cósmica cristalizada. Ops, energia cristalizada? Ninguém falou que ia ser simples – você começou a ler porque quis.
            Pulemos para outra analogia – chega de economia. Pense na água. Quando a temperatura baixa, seus átomos se mexem menos, acalmam-se, e suas propriedades mudam: ela vira gelo. Os físicos acham que algo parecido aconteceu com o nada. No começo, quando a explosão do Big Bang deixou o Universo quente à beca (sua temperatura em graus Celsius, se escreve com o 1 seguido de 30 zeros), o nada ainda não existia. O que existia eram partículas bem parecidas com os prótons, elétrons, nêutrons e fótons de que o tudo é feito – pequenos pedaços de matéria se movendo em alta velocidade. À medida que o Universo foi esfriando, essas partículas se acalmaram, como ocorre com a água quando congela. O nada é o resultado disso – é essa energia cristalizada. Quando ela acalmou, ficou indetectável. E quando um físico provoca uma trombada cósmica num acelerador de partículas, a energia liberada é tão enorme que agita de novo o pedacinho do nada, fazendo-o deixar de ser nada.
            O cosmo cresceu muito depois do Big Bang e seu calor, com o tempo, se diluiu. Hoje a temperatura média do Universo é de 270 graus negativos. O nada está congelado desde segundos depois do Big Bang, quando a temperatura caiu pouco mais de 1 trilhão de graus. Em poucas palavras, isso significa que a matéria de que ele é feito – seja ela qual for – simplesmente sumiu. Passou a não ter a menor interferência no que acontece a sua volta. Por isso é que, no Universo de hoje, ela é... nada. Quer dizer que o nada está mortalmente quieto: armazenou a imensa energia do Big Bang e acomodou-se. Virou o esqueleto do cosmo.
            Mas é exagero dizer que o nada sumiu para sempre. Primeiro porque a aceleração cósmica está aí, mostrando que pode haver um resíduo do nada ainda ativo. Depois porque, como acontece com o gelo, basta reaquecer o vácuo para que a matéria-esqueleto saia do seu abismo para o andar de cima do Universo. Até hoje, desde que, em 1930, começou-se a fazer experiências com os precursores dos aceleradores de partículas, o equivalente a 1 863 272 195 prótons foram trazidos do nada – uma insignificância. Não conseguimos ainda provocar o aparecimento de pedaços maiores, que poderiam nos ajudar a descobrir do que é feito o nada. A primeira tentativa mais ousada de mexer nele está em curso há três anos, em uma máquina de 360 milhões de dólares, instalada no Laboratório Nacional de Brookhaven, nos Estados Unidos. Chama-se Colisionador Relativístico de Íons Pesados, e sua função é fazer núcleos de átomo de ouro colidir a quase 1 bilhão de quilômetros por hora. Isso eleva a temperatura no ponto de colisão a 1,5 trilhão de graus Celsius, o suficiente para forçar um pedacinho do nada a mostrar sua face.
            Foi justamente essa máquina que acendeu a luz de alerta para Odenwald. Ele acha que existe certa falta de respeito diante do desconhecido, como se tudo o que pesquisamos fosse para o bem e não houvesse lugar para o mal dentro do conhecimento. Tudo bem: mesmo com cálculos aproximados, dava para saber que a chance de um acidente em Brookhaven era praticamente nula. Afinal, ela só é capaz de abrir uma torneirinha de energia pouco maior de que o diâmetro de um átomo de ouro, ou seja, 100 mil vezes menor que um milímetro. Que mal poderia haver?
            Que tal uma reação em cadeia? As bombas atômicas também começam a vomitar energia a partir de uns poucos átomos de urânio. Só que essa energia desequilibra outros átomos e assim por diante, numa escala cujo resultado conhecemos bem. Em Brookhaven a situação seria infinitamente pior, porque as reações nucleares, dentro das bombas, afetam apenas o urânio. Mas a energia do vácuo é universal, não tem fronteira – ela está em cada milímetro de tudo. Poderia passar do ouro para as paredes do colisionador, para o solo e para o planeta inteiro. Poderia vazar pelo vácuo entre os planetas. Foi isso que o teórico Frank Wilczek, da Universidade Princeton, disse casualmente numa entrevista. Alguns dias depois, deu no New York Times: “Máquina do Big Bang poderia destruir a Terra”.
            Isso forçou os pesquisadores a refazer todos os cálculos. No final, não havia mesmo risco. Mas Odenwald acha que não aprendemos ainda a lição de humildade que a ciência impõe. Não apenas porque mostra como somos insignificantes diante do cosmo: para ele, o que mais faz falta é o respeito pelos seus mistérios. Algo que os incas, que viam constelações nos espaços sem estrelas do céu, consideravam tão importante quanto o conhecimento em si.
A  HISTÓRIA  DO  VAZIO
Como a ciência descobriu que o nada pode ser muita coisa:
- 200 a.C. – O filósofo grego Aristóteles dez que não é possível à existência de espaço sem matéria. Ele cria o lema: “A natureza tem horror ao vácuo”.
- 1643 – O italiano Evangelista Torricelli, discípulo de Galileu, cria a primeira bomba de vácuo. A experiência é o primeiro passo para derrubar a doutrina de Aristóteles.
- 1927 – A física já aceita plenamente que existe espaço sem matéria. Mas o inglês Paul Dirac sugere que partículas de antimatéria poderiam brotar espontaneamente do vácuo.
- 1947 – O americano Richard Feynman incorpora de vez a idéia de que partículas atômicas podem surgir do vácuo por um ínfimo instante e voltar a desaparecer no vazio.
- 1948 – Hendrik Casimir põe duas chapas metálicas no vácuo, separadas por 0,02 milímetro. Elas ficam eletrificadas. Hoje se pensa que essa eletricidade vem da energia do vácuo.
- 1980 – Alan Guth e André Linde mostram que, ao nascer, o Universo teve um crescimento desabalado por bilionésimos de segundo. A causa: uma liberação formidável de energia do vácuo.
- 1997 – Descobre-se que o cosmo está de novo crescendo em ritmo acelerado. É possível que o novo impulso seja um resíduo de energia do vácuo, ainda em ação.
- 2003 – A análise de dados do satélite-telescópio WMAP leva a uma conclusão absurda: que 73% do peso do Universo vem do vazio. Absurda, porém incontestável.

Li um livro, a algum tempo, do Sr. Daisaku Ikeda,[4] que me veio à mente de uma vez, esse texto:
“Não há dúvida, hoje, de que impulsos, instintos e a ambição do poder são capazes de exercer forte influência sobre a inteligência e a formação do julgamento. Creio que há, no mais fundo do inconsciente do homem, uma fonte mais básica de onde essa instintiva incentivação emana.
Jung, que com Freud é tido como os gigantes da psicologia, acreditava que, basicamente, as vidas de todos os homens repousam numa fundação comum. Ele chama a isso de inconsciente coletivo e que contém uma herança que remonta aos começos da humanidade. Dele se diz que construiu a ponte entre a psicologia e a religião e há, de fato, algo de intimamente relacionado à religião na idéia de que bilhões de habitantes do planeta participam de uma memória geral.
Quanto mais progride a ciência, mais próxima se torna das idéias budistas, mas penso que devemos avançar mais profundamente para encontrar a fonte comum de toda a atividade mental do homem. Os seres viventes recebem as suas força vital da fundamental existência do cosmo, que fornece a energia para os rítmicos movimentos da vida em todo o universo...
No mais profundo interior de todos os seres, existe a primacial força que faz com que vivam. No budismo, essa força total é denominada por muitos nomes, porém o mais apropriado é o Myoho, a Lei Mística. Essa é a energia de que precisa toda a vida, que cria e recria a existência, tanto a espiritual como a material.
Quando essa força se manifesta no mundo físico, aparece como um sistema de que governa o mundo inorgânico, que torna possível a composição química e que controla as pulsações do universo. Em outras palavras, as leis da física, da química e da astronomia são simplesmente particulares manifestações fenomenológicas da Lei Mística do cosmo. Da mesma forma, cria o mundo do espírito, cria a inteligência, dá força aos desejos e aos instintos e, assim, produz todas as variações da atividade mental e espiritual”.
  

A essa altura do campeonato, vocês devem estar se questionando o que tem a ver o ‘nada’ ao cosmo, a corporeidade, a filosofia, a vida, a escola e a educação? Eu digo que tudo! Primeiro pelas conexões invisíveis, as interligações, essa linha que nos costura uns nos outros na interdependência como no livro de Capra[5] “As Conexões Ocultas”.
O vácuo, como foi visto, existe em tudo no Universo. Partindo daí, vamos fazer um paralelo com os mantras. Digamos que a vibração, que fazemos quando recitamos, provoca ondas, que funciona como um acelerador de partículas causando na trombada a liberação dessa energia cristalizada, que é o nada, ou melhor, [...] a ausência de existência própria, o que não tem realidade intrínseca, como bem coloca Trinh Xuan Thuan (2002). Como o nada é pura energia cristalizada, ela é liberada, mas tem muitas memórias conservadas, pois sabemos que as partículas interagiram com muitas partículas na nossa impermanência. Daí é aonde entra a educação, com a teoria dos valores, fortalecendo as relações com as pessoas e seu meio ambiente, melhorando o caráter humano. E com toda essa energia em movimento, concentrada, extraída do próprio ser humano, conduzida com os meios adequados, teremos uma corporeidade com valores, (o sentir e expressar). Sabendo que a ética é um ramo da filosofia que estuda os padrões morais de comportamento do ser humano, é onde entra a criação de valores humanos.


Pesquisado e comentado por: Gracilene Maria Daniel de Souza

Notas:


[1] THUAN,Trinh Xuan, (2002) O Agrimessor do Cosmo. (Coleção Nomes de Deuses – Entrevistas a Edmond Blattchen) São Paulo: Unesp – UEPA.

[2] Flávio Dieguez, (2004) O Nada é Quase Tudo.  Super Interessante. São Paulo: Abril – edição, janeiro, nº 196.

[3]ODENWALD, Sten. (2002) Patterns in the Void – Why Nothing Is Important (Padrões no vácuo – porque o nada é importante), EUA: Westview Press.

[4] IKEDA, Daisaku. (1999) Vida: Um Enigma uma Jóia Preciosa. São Paulo: Record, págs. 27 e 28.

[5] CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002.

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