Budas em vida e na morte: atingir o estado de Buda na presente forma
significa desfrutar alegria tanto em vida como na morte
TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, EDIÇÃO Nº 485, PÁG. 54, JANEIRO DE 2009.
por Daisaku Ikeda
Recebi seus vários oferecimentos. Nada me deixaria mais feliz do que saber que a senhora tem se comunicado com o falecido Ueno [seu marido Nanjo Hyoe Shitiro]; no entanto, sei que isso é impossível. A menos que fosse em sonho, é improvável que a senhora o tenha visto. A não ser que fosse uma ilusão, como a senhora poderia tê-lo visto? Com certeza, seu falecido marido habita a terra pura do Pico da Águia, ouvindo e observando este mundo saha dia e noite. A senhora, esposa de Shitiro, e os filhos possuem apenas os sentidos de um mortal comum, por isso, não podem vê-lo nem ouvi-lo; porém, esteja certa de que, no futuro, vocês se reunirão [no Pico da Águia].
O número de homens com quem a senhora selou votos matrimoniais durante todas as suas existências passadas deve superar até os grãos de areia do oceano. No entanto, desta vez, esses votos foram feitos com seu verdadeiro marido. A razão disso é que, por meio do incentivo dele, a senhora veio a se tornar uma praticante do Sutra de Lótus. Sendo assim, deve reverenciá-lo como um buda. Quando vivo, ele foi um buda em vida, e agora é um buda na morte. Ele é um buda tanto em vida como na morte. Esse é o significado da doutrina fundamental “atingir o estado de Buda na presente forma”. O quarto volume do Sutra de Lótus afirma: “A pessoa que mantém este [sutra] está mantendo o corpo do Buda”.
Tanto a terra pura como o inferno não existem fora de nossa vida; eles somente podem ser encontrados em nosso coração. A pessoa que desperta para isso é chamada de Buda; e a que ignora é chamada de mortal comum. O Sutra de Lótus revela essa verdade, e quem abraça esse sutra perceberá que o inferno é a própria Terra da Luz Tranqüila. (...)
Esse ensino é de importância fundamental; no entanto, vou compartilhá-lo com a senhora assim como o Bodhisattva Manjushri expôs o ensino secreto da possibilidade de iluminação na presente forma para a filha do Rei Dragão. Depois de ouvir sobre esse ensino, empenhe-se ainda mais na fé. A pessoa que, ao ouvir os ensinos do Sutra de Lótus, fortalece ainda mais a fé, é um verdadeiro seguidor do Caminho. Tient’ai declara: “Do índigo se obtém um azul muito mais intenso”. Essa passagem significa que se mergulharmos algo repetidas vezes em tintura de índigo, o resultado será um azul ainda mais forte do que o das folhas da planta. O Sutra de Lótus é como o índigo, e o poder da fé de uma pessoa é como o azul que se torna cada vez mais forte. (...)
Como seu falecido marido era um devoto desse sutra, é certo que atingiu a iluminação exatamente como ele era. Por essa razão, não precisa ficar demasiadamente aflita por causa da morte dele. Por outro lado, esse sentimento é algo natural nas pessoas comuns. Se até os sábios ficam entristecidos algumas vezes, será que a tristeza de todos os grandes discípulos iluminados do Buda Sakyamuni, no momento da morte dele, não teve como propósito mostrar o comportamento próprio das pessoas comuns?
Faça o máximo para realizar boas ações em benefício de seu falecido marido. As palavras de um sábio do passado também nos ensina: “Deve basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências”. Como isso também é verdadeiro! Nesta carta, revelei meus ensinos que há muito tempo guardo como tesouros. Grave-os profundamente em seu coração.
(The Writings of Nichiren Daishonin [WND], v. 1, pp. 456-458.)
Como seu falecido marido era um devoto desse sutra, é certo que atingiu a iluminação exatamente como ele era. Por essa razão, não precisa ficar demasiadamente aflita por causa da morte dele. Por outro lado, esse sentimento é algo natural nas pessoas comuns. Se até os sábios ficam entristecidos algumas vezes, será que a tristeza de todos os grandes discípulos iluminados do Buda Sakyamuni, no momento da morte dele, não teve como propósito mostrar o comportamento próprio das pessoas comuns?
Faça o máximo para realizar boas ações em benefício de seu falecido marido. As palavras de um sábio do passado também nos ensina: “Deve basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências”. Como isso também é verdadeiro! Nesta carta, revelei meus ensinos que há muito tempo guardo como tesouros. Grave-os profundamente em seu coração.
(The Writings of Nichiren Daishonin [WND], v. 1, pp. 456-458.)
Explanação
Em 1950, meu mestre Jossei Toda, enfrentando circunstâncias extremamente difíceis em sua empresa, renunciou como diretor-geral da Soka Gakkai para proteger a organização de qualquer repercussão negativa que pudesse afetá-la. As revigorantes reuniões de estudo do Gosho, realizadas na Sede Central da Soka Gakkai com a presença de dezenas de pessoas, tornaram-se menos freqüentes. No entanto, nesse período tumultuado, ele arranjou tempo para explanar os escritos de Nitiren Daishonin a pequenos grupos de pessoas que continuavam a participar. O Sr. Toda disse em tom solene: “Dedicarei cada gota de minhas energias àqueles que quiserem estudar, mesmo que seja para uma única pessoa”. Ele também declarou: “Mesmo que eu caísse no inferno, não me preocuparia o mínimo. Simplesmente transmitiria o ensino correto aos que estivessem ali e transformaria o lugar na Terra da Luz Tranqüila. Porém, preocupo-me com o que possa acontecer a vocês que são principiantes na fé”.
Por piores que fossem as adversidades enfrentadas, por mais exausto que estivesse, o Sr. Toda munia-se de energia e benevolência, com o desejo de encorajar os que possuíam espírito de procura, seja um membro combatendo o carma negativo e querendo obter orientação na fé, seja um jovem ansiando por aprender sobre o budismo.
Tempos mais tarde, o presidente Toda solucionou os problemas financeiros e, em 1951, tomou posse como presidente da Soka Gakkai. Pouco antes disso, ele havia mudado o escritório da empresa para uma sala do edifício Itigaya, perto da estação de mesmo nome, em Tóquio. Ele também estabeleceu uma “filial” da sede da Soka Gakkai numa outra pequena sala, dentro do mesmo prédio. Ali, dedicava várias horas do dia para oferecer orientação e encorajamento aos membros que o procuravam.
O Budismo de Nitiren Daishonin possibilita às pessoas que mais sofrem conquistar elevada felicidade. A Lei Mística tem o poder de transformar até mesmo o inferno na Terra da Luz Tranqüila.
Ouvi um depoimento maravilhoso a respeito de uma ex-recepcionista do edifício Itigaya. Um membro da Divisão Feminina que era muito amiga dessa pessoa transmitiu-me os comentários.
A recepcionista lembrava-se claramente das circunstâncias naqueles dias. Muitas pessoas procuravam o escritório que fazia às vezes de sede. Os que chegavam cabisbaixos e esgotados por causa dos problemas e preocupações, saíam como se fossem uma outra pessoa, com um sorriso brilhante estampado no rosto. E, conforme conta essa senhora, a transformação inexplicável sempre a deixava impressionada.
Tanto Tsunessaburo Makiguti como Jossei Toda, os dois primeiros presidentes da Soka Gakkai, ensinaram um modo de vida orientado a acender no coração das pessoas a chama da coragem e da convicção, sempre inclinado a iluminar o caminho para um amigo ou uma família, de forma que eles conseguissem ver o carma como missão. Incentivar incansavelmente as pessoas, inspirar cada uma delas a se levantar para cumprir juntas a missão mais nobre de todas, o Kossen-rufu mundial — eis o espírito primordial que permeia a relação de mestre e discípulo na Soka Gakkai. Enquanto esse espírito existir, a Soka Gakkai continuará a se desenvolver.
Nesta oportunidade, estudaremos o escrito “O inferno é a Terra da Luz Tranqüila” e aprenderemos com a luta de Daishonin, uma batalha que ele realizou durante toda a sua vida para encorajar os seguidores.
Recebi seus vários oferecimentos. Nada me deixaria mais feliz do que saber que a senhora tem se comunicado com o falecido Ueno [seu marido Nanjo Hyoe Shitiro];1 no entanto, sei que isso é impossível. A menos que fosse em sonho, é improvável que a senhora o tenha visto. A não ser que fosse uma ilusão, como a senhora poderia tê-lo visto? Com certeza, seu falecido marido habita a terra pura do Pico da Águia,2 ouvindo e observando este mundo saha3 dia e noite. A senhora, esposa de Shitiro, e os filhos possuem apenas os sentidos de um mortal comum, por isso, não podem vê-lo nem ouvi-lo; porém, esteja certa de que, no futuro, vocês se reunirão [no Pico da Águia]
O número de homens com quem a senhora selou votos matrimoniais durante todas as suas existências passadas deve superar até os grãos de areia do oceano. No entanto, desta vez, esses juramentos foram feitos com seu verdadeiro marido. A razão disso é que, por meio do incentivo dele, a senhora veio a se tornar uma praticante do Sutra de Lótus. Sendo assim, deve reverenciá-lo como um buda. Quando vivo, ele foi um buda em vida, e agora é um buda na morte. Ele é um buda tanto em vida como na morte. Esse é o significado da doutrina fundamental “atingir o estado de Buda na presente forma”.4 O quarto volume do Sutra de Lótus afirma: “A pessoa que mantém este [sutra] está mantendo o corpo do Buda”.5 (WND, v. 1, p. 456.)
O número de homens com quem a senhora selou votos matrimoniais durante todas as suas existências passadas deve superar até os grãos de areia do oceano. No entanto, desta vez, esses juramentos foram feitos com seu verdadeiro marido. A razão disso é que, por meio do incentivo dele, a senhora veio a se tornar uma praticante do Sutra de Lótus. Sendo assim, deve reverenciá-lo como um buda. Quando vivo, ele foi um buda em vida, e agora é um buda na morte. Ele é um buda tanto em vida como na morte. Esse é o significado da doutrina fundamental “atingir o estado de Buda na presente forma”.4 O quarto volume do Sutra de Lótus afirma: “A pessoa que mantém este [sutra] está mantendo o corpo do Buda”.5 (WND, v. 1, p. 456.)
Tanto a vida como a morte estão imbuídas de alegria
Nitiren Daishonin afirma: “Quando vivo, ele foi um buda em vida, e agora é um buda na morte”.6 O grande ensino de Daishonin nos possibilita atingir o estado de Buda nesta existência e passar pelo ciclo eterno de nascimento e morte com total liberdade e infinita esperança.
Se nossa vida for repleta de alegria, assim também será nossa morte. E se nossa morte for cheia de júbilo, da mesma forma será nossa próxima existência. Daishonin ensina que o ciclo de nascimento e morte é uma sucessão ininterrupta de alegria, e que a essência da vida está em nos dedicarmos a fazer dessa alegria a nossa realidade e ajudar os outros a fazer o mesmo.
“O inferno é a Terra da Luz Tranqüila” é uma carta endereçada à monja leiga de Ueno, viúva de Nanjo Hyoe Shitiro. Há divergências entre os estudiosos a respeito da data em que a carta foi escrita. Alguns dizem ter sido redigida imediatamente após a morte de Hyoe Shitiro, em 1265. Outros acreditam que tenha sido escrita em 1274, quando Daishonin voltou da Ilha de Sado e foi viver no Monte Minobu, retomando a correspondência assídua com a família Nanjo.
O primeiro membro da família Nanjo a se converter aos ensinos de Daishonin foi Hyoe Shitiro. Vassalo do xogunato de Kamakura e discípulo muito estimado por Daishonin, Shitiro faleceu em 1265 devido a uma grave doença. Seguiu com sinceridade as orientações de seu mestre e manteve a fé na Lei Mística até o fim da vida. Os familiares de Shitiro prosseguiram com a prática budista, sustentando a mesma pureza.
Quando Hyoe Shitiro faleceu, o segundo filho, Tokimitsu7 — que se tornou o chefe da família — tinha apenas 7 anos de idade. Nessa época também, a esposa de Hyoe Shitiro estava esperando o quinto filho. Certamente a dor pela perda do marido foi muito grande. Porém, ela deixou de lado o próprio sofrimento para proteger e criar sozinha os filhos.
Nitiren Daishonin sentiu a tristeza incontida que havia no coração daquela mãe e a encorajou com o sincero desejo de aliviar-lhe o sofrimento. Nesta carta, ele comenta que mesmo que ela conseguisse ver o falecido marido em sonhos, no mundo real estava impossibilitada de manter qualquer comunicação com ele. Daishonin ressalta que, do ponto de vista do budismo, Hyoe Shitiro está na terra pura do Pico da Águia, zelando constantemente pela família. E lhe assegura que, no final, ali se reencontrarão.
Com profundo afeto, Daishonin conforta a monja leiga de Ueno, dizendo-lhe que todos os que compartilham os laços da fé — os companheiros praticantes, os familiares ou os amigos —, sem falta, voltarão a se encontrar.
A terra pura do Pico da Águia é o eterno “lar” da vida
A terra pura do Pico da Águia, da qual Nitiren Daishonin fala, certamente não se refere a nenhum reino lendário como o paraíso ocidental chamado Terra Pura da Perfeita Alegria,8 exposto pela escola budista Terra Pura (Nembutsu). Simplesmente, a terra pura do Pico da Águia representa o estado de Buda do Universo. Nos escritos de Daishonin, lemos estas palavras: “Seu corpo e sua mente permeiam a totalidade do mundo dos fenômenos num único instante”.9 A vida de uma pessoa que falece, tendo praticado firmemente a Lei Mística, entrará em fusão com o estado vasto e ilimitado do Universo e será permeada por uma grande alegria. O presidente Toda dizia que isso era “entrar em fusão com o estado de Buda do Universo”.
Nos escritos de Daishonin, freqüentemente lemos trechos como: “Vamos nos encontrar na terra pura do Pico da Águia”,10 e “Sem falta, tanto a mãe como o filho vão para a terra pura do Pico da Águia”.11
A terra pura do Pico da Águia representa o estado de Buda que pode ser atingido por todos os que mantêm a fé na Lei Mística até o fim da vida. Ali, mestre e discípulo, companheiros de fé, pais e filhos, cônjuges, familiares e todos os que estão unidos por profundos laços de vida, podem celebrar um jubiloso reencontro.
Procedentes do estado de Buda universal, os Bodhisattvas da Terra, aparecem neste mundo saha cheio de problemas, para cumprir a missão de conduzir os seres humanos à iluminação. Depois de cumprir a missão na vida, regressam uma vez mais ao estado de Buda do Universo — à terra pura do Pico da Águia. Esse é o “lar” eterno — na profunda dimensão da vida — dos corajosos Bodhisattvas da Terra, consagrados a propagar amplamente a Lei Mística. Um “lar” habitado por companheiros do tempo sem início.
Ser um “buda em vida” significa evidenciar nosso estado de Buda inato com base nessa consciência, e nos levantarmos com coragem no palco de nossa missão, sem nos afastar da dura realidade cotidiana, não só pela felicidade pessoal mas também pela felicidade dos demais. Ser um “buda na morte” significa entrar no caminho eterno da infinita alegria da Lei12 depois de ter cumprido a missão nesta existência, e empreender a viagem seguinte pelo caminho do bodhisattva para continuar cumprindo o juramento de conduzir as pessoas à iluminação.
O propósito desta existência é desenvolver um elevado estado de vida, por meio do qual possamos sentir verdadeiramente que somos budas em vida e na morte e que tanto uma condição como a outra estão imbuídas de alegria. Em outras palavras, cada momento desta existência é uma luta para consolidar esse estado de vida.
Neste escrito, Daishonin cita uma passagem do Sutra de Lótus: “A pessoa que mantém este [sutra] está mantendo o corpo do Buda”.13 Tal como essa passagem declara, Nanjo Hyoe Shitiro entrou no caminho eterno do nascimento e da morte no mundo do estado de Buda porque perseverou na prática budista e estabeleceu, ao longo de sua existência, essa elevada condição de vida. Daishonin tranqüiliza a monja leiga de Ueno com essas palavras. É como se estivesse dizendo a ela: “Seu falecido marido é, com absoluta certeza, um buda, tal como o Sutra de Lótus afirma”, “Seu marido venceu! Agora é a vez de a senhora vencer!”
Tanto a terra pura como o inferno não existem fora de nossa vida; eles somente podem ser encontrados em nosso coração. A pessoa que desperta para isso é chamada de Buda; e a que ignora é chamada de mortal comum. O Sutra de Lótus revela essa verdade, e quem abraça esse sutra perceberá que o inferno é a própria Terra da Luz Tranqüila.14
(...)
(...)
Esse ensino é de importância fundamental; no entanto, vou compartilhá-lo com a senhora assim como o Bodhisattva Manjushri15 expôs o ensino secreto da possibilidade de iluminação na presente forma para a filha do Rei Dragão.16 Depois de ouvir sobre esse ensino, empenhe-se ainda mais na fé. A pessoa que, ao ouvir os ensinos do Sutra de Lótus, fortalece ainda mais a fé, é um verdadeiro seguidor do Caminho. Tient’ai declara: “Do índigo se obtém um azul muito mais intenso”. Esta passagem significa que se mergulharmos algo repetidas vezes em tintura de índigo, o resultado será um azul ainda mais forte que o das folhas da planta. O Sutra de Lótus é como o índigo, e o poder da fé de uma pessoa é como o azul que se torna cada vez mais forte. (WND, v. 1, pp. 456-457.)
O poder benéfico da Lei Mística: transformar o inferno na Terra da Luz Tranqüila. Tanto o inferno como a terra pura existem em nós. Acreditar que ambos existem em outro lugar é ilusão. É isso o que nos ensina Daishonin. Nesse trecho da carta, Nitiren Daishonin encoraja a monja leiga de Ueno com um outro foco. Ele já não diz a ela sobre a iluminação do falecido marido, mas sim sobre a iluminação dela.
As pessoas que praticam o Sutra de Lótus podem comprovar na própria vida o princípio de que “o inferno é a Terra da Luz Tranqüila”. Em um de seus escritos, Daishonin diz a Shijo Kingo que, se fosse necessário para protegê-lo, ele o acompanharia mesmo no inferno. Daishonin diz: “Se o senhor e eu caíssemos no inferno juntos, encontraríamos o Buda Sakyamuni e o Sutra de Lótus ali”.17 Podemos entender na frase que, se Nitiren Daishonin e Sakyamuni estão presentes no Inferno, este deixa de ser inferno para tornar-se a terra do Buda. Nesse caso, os guardiões do inferno18 não atacariam os seguidores do Buda, e Yama, rei do inferno, não teria outra escolha senão proteger o Sutra de Lótus.
O Sutra de Lótus é um ensino capaz de transformar o lugar em que estamos na terra do Buda. Ter fé no Sutra significa empreender esse desafio. Conseqüentemente, é impossível que os seguidores de Daishonin que perseveram na prática do Sutra de Lótus devam sofrer no estado de inferno. A eles está assegurado um estado de vida de absoluta liberdade.
Daishonin queria transmitir esse ponto à monja leiga de Ueno. Muito embora, provavelmente, ela já tivesse escutado várias vezes sobre o princípio de que “o inferno é a Terra da Luz Tranqüila”, Daishonin queria que ela compreendesse esse ensinamento num nível muito mais profundo e que o manifestasse na própria vida. Essas passagens também transmitem o sincero desejo de Daishonin de que a monja leiga se dedicasse à prática budista com uma determinação ainda mais firme.
Atingir o estado de Buda na presente forma é um princípio de esperança e de alegria
A razão de Daishonin ter mencionado o princípio de que “o inferno é a Terra da Luz Tranqüila” foi para que a monja leiga se sentisse confiante de que o marido havia atingido o estado de Buda. Outro motivo foi para ensinar a ela que o estado de Buda existe na própria vida — consciência que lhe daria uma inabalável confiança e inspiração — mesmo enquanto ela lutava corajosamente para criar os filhos sozinha.
Para incentivá-la ainda mais, Daishonin analisa um episódio mencionado no Sutra de Lótus, em que a filha do Rei Dragão atinge o estado de Buda sem mudar a forma física. A pedido de Sakyamuni, no 12º capítulo do Sutra de Lótus, “Devadatta”, o Bodhisattva Manjushri explica sobre o poder benéfico da Lei Mística ao Bodhisattva Sabedoria Acumulada [um seguidor do Buda Muitos Tesouros]. Nesse momento, para oferecer provas concretas de que a Lei Mística permite às pessoas atingir o estado de Buda sem precisar mudar a forma ou o aspecto, convoca e apresenta a filha do Rei Dragão.
Porém, certas pessoas, como o Bodhisattva Sabedoria Acumulada e Shariputra, um dos principais discípulos de Sakyamuni, se negaram a acreditar que uma mulher fosse capaz de manifestar o estado de Buda sem ter de mudar a identidade feminina. Diante desses homens incrédulos, a menina-dragão jura a Sakyamuni: “Haverei de expor as doutrinas do Grande Veículo [o Sutra de Lótus] / para resgatar os seres vivos do sofrimento”.19 Então, perante todos, ela apresenta a prova concreta, atingindo a iluminação tal como é, ou seja, como menina-dragão. Quanto à multidão que testemunha essa façanha, o Sutra descreve: “O coração de todos foi completamente tomado de grande alegria”.20 Repleto de júbilo, eles entraram no Caminho do estado de Buda. Enquanto isso, todos os que duvidavam ficaram admirados com o feito da filha do Rei Dragão. Em silêncio, admitiram a iluminação da jovem. O drama emocionante da menina-dragão, ou seja, a consecução do estado de Buda, irradiou ondas de alegria e esperança a toda a assembléia.
O princípio de “atingir o estado de Buda na presente forma” tem o poder de despertar a esperança e a alegria na vida de todas as pessoas. Nitiren Daishonin ensina essa doutrina fundamental à monja leiga de Ueno, por meio deste escrito, para fazer surgir no coração dela a luz da verdadeira esperança.
O Budismo de Nitiren Daishonin torna realidade os princípios do Sutra de Lótus
“Empenhe-se ainda mais na fé. A pessoa que, ao ouvir os ensinos do Sutra de Lótus, fortalece ainda mais a fé, é um verdadeiro seguidor do Caminho”,21 diz Daishonin à monja leiga de Ueno.
Nitiren Daishonin explica profundos princípios, como “atingir o estado de Buda na presente forma” e “o inferno é a Terra da Luz Tranqüila”, para ajudar seus discípulos a aprofundar a fé. O budismo não é um jogo de palavras nem de conceitos.
Os princípios básicos explicados neste escrito nos ensinam que a fonte de esperança suprema — o estado de Buda — reside dentro de nós. Se aceitarmos isso como verdade em relação a nós, e mantivermos firme essa crença, a escuridão ou a ignorância fundamental22 que obscurece nosso estado de Buda será dissipada, fazendo com que nossa vida brilhe.
Portanto, o mais importante é a fé. Quanto mais aprofundamos a fé, mais nossa vida é tingida pelo tom do estado de Buda. Para ilustrar, Daishonin cita palavras do Grande Mestre Tient’ai, da China: “Do índigo se obtém um azul muito mais intenso”.23
As folhas da planta do índigo são esverdeadas com um ligeiro tom azulado. Mas, se algo é mergulhado várias vezes na tinta obtida dessas folhas, adquire um tom forte de azul. Nossa prática para atingir o estado de Buda nesta existência também é assim.
Por expor esse princípio, o Sutra de Lótus pode ser comparado às folhas da planta de índigo. A prática do Budismo de Nitiren Daishonin, por sua vez, é como submergir algo repetidamente na tinta obtida a partir das folhas. Em outras palavras, no Budismo de Nitiren Daishonin, ao aprofundarmos a fé ouvindo os ensinos e ao nos empenharmos ainda mais na prática, podemos manifestar o estado de Buda e atingir a iluminação nesta existência.
O propósito do estudo dos escritos budistas não é só para compreender o espírito de Daishonin e fortalecer a fé. Ao incorporarmos os profundos princípios filosóficos, podemos adquirir a sólida convicção de que a esperança e a paz residem em nosso próprio coração, e nos dedicar pela própria felicidade e a dos outros. O estudo também nos proporciona coragem para enfrentar as dificuldades por meio do exemplo de Daishonin, que triunfou sobre enormes obstáculos e provações. Eis a chave do estudo prático budista: um estudo que pode se aplicar à vida cotidiana. Tenhamos sempre isso em mente.
Como seu falecido marido era um devoto desse sutra, é certo que atingiu a iluminação exatamente como ele era. Por essa razão, não precisa ficar demasiadamente aflita por causa da morte dele. Por outro lado, esse sentimento é algo natural nas pessoas comuns. Se até os sábios ficam entristecidos algumas vezes, será que a tristeza de todos os grandes discípulos iluminados do Buda Sakyamuni no momento da morte dele, não teve como propósito mostrar o comportamento próprio das pessoas comuns?
Faça o máximo para realizar boas ações em benefício de seu falecido marido. As palavras de um sábio do passado também nos ensina: “Deve basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências”.24 Como isso também é verdadeiro! Nesta carta, revelei meus ensinos que há muito tempo guardo como tesouros. Grave-os profundamente em seu coração. (WND, v. 1, p. 458.)
Faça o máximo para realizar boas ações em benefício de seu falecido marido. As palavras de um sábio do passado também nos ensina: “Deve basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências”.24 Como isso também é verdadeiro! Nesta carta, revelei meus ensinos que há muito tempo guardo como tesouros. Grave-os profundamente em seu coração. (WND, v. 1, p. 458.)
Seguir o caminho de nossa missão, tal como somos
Atingir o estado de Buda tal como cada um é não tem nada a ver com adquirir faculdades sobrenaturais. Significa atingir, como seres humanos, um estado de vida eterno e ilimitado, caracterizado pelas virtudes da eternidade, felicidade, verdadeira identidade e pureza.25
Os benefícios da Lei Mística são imensuráveis. Todas as formas de vida — em qualquer dos Dez Mundos em que se encontrem — são, originalmente, uma entidade da Lei Mística. Portanto, mesmo que uma pessoa se encontre no estado de Inferno, se mudar o foco ou a atitude mental nesse momento, ela manifesta imediatamente o estado mais puro e supremo como entidade da Lei Mística. A isso se refere o princípio de “atingir o estado de Buda na presente forma”.
Naturalmente, a expressão “na presente forma” não significa que atingiremos o estado de Buda quando nos entregamos ao sofrimento ou à indolência. Faz-se necessária uma luta para transformar, momento a momento, o foco de nossa mente. Nitiren Daishonin revelou o Gohonzon, o objeto de devoção, para que qualquer pessoa consiga travar essa luta.
No Gohonzon que inscreveu, Daishonin deu expressão ao supremo estado de vida que ele havia atingido. Os que recitam Nam-myoho-rengue-kyo com fé no Gohonzon, rompem a ignorância e a escuridão que envolve sua vida e fazem surgir de seu ser o estado de Buda, inseparável da Lei Mística.
Acreditar no Gohonzon significa crer que o estado de vida de suprema nobreza manifestado por Daishonin também existe na própria vida. Isso significa perseverar na fé e na prática como devotos do Sutra de Lótus, tal como fez Daishonin. Somente nos empenhando na fé com o mesmo espírito ensinado por Daishonin é que podemos vencer a ignorância ou a escuridão que envolve nossa vida.
Neste escrito, Nitiren Daishonin declara que Hyoe Shitiro, por ter sido devoto do Sutra de Lótus, sem falta, atingiu o estado de Buda tal como ele era. Em outras palavras, por ter sido um devoto do Sutra de Lótus, foi um “buda em vida” e continuou sendo um “buda na morte”. Nesse sentido, Daishonin assegura à monja leiga de Ueno que o falecido marido, assim como experimentou a paz espiritual em vida, também, depois da morte, continuou a habitar o mundo eterno e indestrutível do estado de Buda inerente ao Universo. Com base na profunda visão sobre a verdadeira natureza da vida, ele a encoraja dizendo: “Não há, fundamentalmente, nenhuma razão para afligir-se ou lamentar-se”.
Ser um vencedor no mundo real
Nitiren Daishonin prossegue dizendo que, apesar de as pessoas compreenderem esse ponto intelectualmente, é muito natural que, como seres humanos, sofram pela perda de um ente querido. Ressalta que até os sábios se entristecem em certos momentos. Dessa forma, ele encoraja a monja leiga de Ueno a realizar o máximo de boas ações possível para transmitir os benefícios ao falecido marido. Ou seja, Daishonin pede a ela que converta sua tristeza em oração pela eterna felicidade do marido.
Cada palavra dessa carta parece abraçar afetuosamente a monja leiga de Ueno. Nitiren Daishonin sempre prezava os sentimentos de seus seguidores. Tão vasto quanto o céu ou o oceano, assim é o coração do Buda dos Últimos Dias da Lei.
Nesse trecho, Daishonin pede à monja leiga de Ueno que se dedique ao máximo na fé. Pois, ao sublimar e converter em oração o sofrimento da perda do marido, ela estaria dando passos de avanço na fé que enobreceriam sua vida e lhe permitiriam atingir o estado de Buda. Oferecer orações aos falecidos com base na Lei Mística constitui parte admirável da prática budista.
Não há absolutamente necessidade alguma de fingir diante do Gohonzon. Devemos orar ao Gohonzon tal como somos: com alegria quando estamos felizes, com tristeza quando nos sentimos deprimidos. Consideremos o sofrimento e a alegria como fatos da vida e continuemos recitando o Nam-myoho-rengue-kyo resolutamente até o fim. Mediante o imenso poder da Lei Mística, todas as nossas orações integrarão nossa prática budista.
Haja o que houver, os que continuam recitando convictamente o Nam-myoho-rengue-kyo, atingirão a verdadeira vitória. A pessoa que recita Daimoku com essa postura e manifesta o poder da Lei Mística na vida é, na realidade, um “buda em vida”.
A esse respeito, o Sr. Toda disse: “Ser um buda significa desfrutar total paz espiritual. (...) Como resultado da firme crença no Gohonzon, a vida de uma pessoa doente, por exemplo, adquire completa paz interior. Essa profunda serenidade nos permite sentir alegria pelo simples fato de viver. (...) Não acham que sentir essa alegria absoluta é o verdadeiro significado de ser um buda? Isso não corresponderia a atingir o mesmo estado de vida de Daishonin?”26
Para explicar sobre essa condição de vida à monja leiga de Ueno, Daishonin cita as seguintes palavras: “Deve basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências”.27
A “nona consciência” é uma vida livre de quaisquer impurezas, una com a Lei Mística, a verdade suprema. É a natureza inata de Buda que existe em todos os seres. Nossa vida é, inerentemente, um palácio onde habita o “rei da mente”,28 ou a entidade fundamental do ser, conhecida como nona consciência. No Gosho, encontramos a expressão “o palácio da nona consciência, a realidade imutável que rege todas as funções da vida”.29 Daishonin inscreveu essa realidade inerente à nossa vida na forma gráfica do Gohonzon. Portanto, “basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências” significa, simplesmente, recitar Nam-myoho-rengue-kyo com fé no Gohonzon.
As “seis consciências” são os cinco sentidos (visão, olfato, audição, paladar e tato) que funcionam em resposta aos estímulos ou fenômenos do mundo circundante, mais a consciência, que integra as percepções dos cinco sentidos. Em outras palavras, as seis consciências expressam nossa vida neste mundo. “Conduzir a prática com as seis consciências” significa estabelecer firmemente o estado de Buda em nossa vida diária, em nosso local de prática. Este é o princípio segundo o qual “a fé manifesta-se na vida diária”.
Poderíamos dizer que “basear a mente na nona consciência e conduzir a prática com as seis consciências” abarca a totalidade de nossas atividades da Soka Gakkai. Isso porque vivemos firmemente alicerçados no estado de Buda e saímos ao encontro das pessoas para transmitir-lhes a Lei Mística e conduzi-las à iluminação em meio a uma sociedade com inúmeros problemas e sofrimentos.
Encorajar outros na fé requer esforços sérios, sinceros e incondicionais. Implica uma poderosa interação com o nível mais profundo da vida, fazendo surgir em cada pessoa a dinâmica dos “três mil mundos num único momento da vida”. É um desafio que exige dedicação, mas por meio do qual polimos e melhoramos nossa própria vida. Esses esforços consolidam nosso estado de Buda, o que nos possibilita ajudar os outros a fazer o mesmo.
Que fonte de força e coragem essa carta deve ter representado para a monja leiga de Ueno!
Anos depois, essa mãe admirável perdeu repentinamente o quinto filho, de 16 anos. Tokimitsu, o segundo filho e chefe da família, também adoeceu gravemente, chegando quase a morrer. Mesmo enfrentando um destino tão doloroso, a monja leiga de Ueno continuou praticando os ensinos de Daishonin. Lutou tenazmente e conquistou uma esplêndida vitória.
Como é maravilhoso lutar na companhia de um mestre da fé, possuidor de uma compreensão tão profunda da visão budista sobre a vida e a morte! O princípio sobre atingir o estado de Buda na presente forma torna-se realidade quando tanto o mestre como o discípulo desfrutam a alegria em vida e também a alegria na morte.
Notas
1. O falecido Ueno, ou Nanjo Hyoe Shitiro, era administrador da Vila de Ueno, no distrito Fuji, e vassalo do xogunato de Kamakura. Foi seguidor da escola Terra Pura (Nembutsu), mas quando ouviu Nitiren Daishonin pregar, decidiu adotá-lo como mestre. Em 1264, Shitiro adoeceu e, no fim do mesmo ano, recebeu uma carta de encorajamento de Daishonin. Ele veio a falecer no ano seguinte. 2. Terra pura do Pico da Águia: O Pico da Águia é o lugar em que Sakyamuni pregou o Sutra de Lótus. Também simboliza a terra do Buda ou o estado de Buda, como na expressão “terra pura do Pico da Águia”. 3. Mundo saha: Este mundo que é repleto de sofrimento. Freqüentemente traduzido como “mundo da perseverança”. Saha quer dizer “terra”; deriva de um radical que significa “resistir” ou “suportar”. Nesse contexto, “mundo saha” indica um mundo em que as pessoas devem resistir ao sofrimento. 4. Atingir o estado de Buda na presente forma: Significa manifestar o estado de Buda tal como cada indivíduo é, sem ter de se descartar do corpo e da identidade como ser humano. De acordo com outros ensinos, exceto o Sutra de Lótus, uma pessoa somente pode atingir o estado de Buda depois de ter praticado durante um período incrivelmente longo, por incontáveis existências, e cortando todo vínculo com os nove estados. Mas o Sutra de Lótus ensina que é possível atingir o estado de Buda tal como cada um é, como pessoas comuns. Esse princípio costuma ser ilustrado por meio do exemplo da filha do Rei Dragão que, de acordo com o 12º capítulo do Sutra de Lótus, “Devadatta”, atingiu a iluminação num instante, sem mudar a forma de dragão, por meio do poder benéfico da Lei Mística. 5. The Lotus Sutra [LS], cap. 11, p. 180. 6. The Writings of Nichiren Daishonin [WND], v. 1, p. 456. 7. Nanjo Tokimitsu (1259-1332): Seguidor leigo de Nitiren Daishonin e segundo filho de Nanjo Hyoe Shitiro. Além de apoiar seu mestre, Tokimitsu auxiliou Nikko Shonin, o sucessor imediato de Nitiren Daishonin, nas atividades de propagação na área Fuji. Também protegeu os seguidores de Nitiren Daishonin durante a Perseguição de Atsuhara, iniciada em 1278. 8. Terra Pura da Perfeita Alegria: Terra situada a oeste, descrita nos sutras da escola Terra Pura. Segundo esse sutra, está localizada a uma distância de “dez bilhões de terras do Buda a oeste”, onde vive Amida. 9. Uma passagem de Anotações sobre “Grande Concentração e Discernimento”, de Miao-lo. Pelo fato de os Dez Mundos na totalidade, e todos os três mil mundos, existirem originalmente na vida das pessoas em cada momento, quando elas atingem o estado de Buda, de acordo com esse princípio, o corpo e a mente delas permeiam o mundo dos fenômenos e elas atingem uma condição de completa liberdade. Leia em Os Escritos de Nitiren Daishonin [END], v. 5, p. 197. 10. WND, v. 1, p. 596. 11. WND, v. 2, p. 964. 12. Infinita Alegria da Lei: A felicidade suprema e ilimitada do Buda, o benefício da Lei Mística. 13. Sobre essa passagem do 11º capítulo do Sutra de Lótus, “Surgimento da Torre de Tesouro”, Nitiren Daishonin afirma no Registro dos Ensinos Orais: “Manter o Sutra de Lótus é sustentar a crença de que nosso corpo é o corpo do Buda. (...) Manter o corpo do Buda significa sustentar a crença de que fora do nosso corpo o Buda não existe. Em outras palavras, o mortal comum, no nível em que se é um buda em teoria, não difere do Buda no nível da iluminação suprema”. (Registro dos Ensinos Orais, pp. 96-97). A passagem do sutra pertence a The Lotus Sutra [LS], cap. 11, p. 180, citada em WND, v. 1, p. 456. 14. “O inferno é a Terra da Luz Tranqüila”: Significa que o mundo de Inferno, um estado de vida de sofrimento, pode transformar-se na Terra da Luz Tranqüila, onde o Buda habita, tal como é. “Inferno” denota um estado de sofrimento extremo, e “Terra da Luz Tranqüila” é o estado de Buda. A idéia de que o estado de Inferno é o estado de Buda, expressa, de modo figurado, o princípio da possessão mútua dos Dez Mundos. 15. Bodhisattva Manjushri: Personagem que aparece nos sutras como líder dos bodhisattvas, considerado símbolo da perfeita sabedoria. 16. Filha do Rei Dragão: Também conhecida como menina-dragão. Filha de 8 anos de Sagara, um dos oito grandes reis dragões que vive num palácio situado no fundo do oceano. Quando ouve o Bodhisattva Manjushri pregar o Sutra de Lótus, a menina manifesta o desejo de atingir a iluminação. Então, ela se apresenta diante da assembléia do Sutra de Lótus e instantaneamente atinge o estado de Buda, tal como é. 17. WND, v. 1, p. 850. 18. Guardiões do inferno: Demônios da mitologia budista que atormentam os transgressores que haviam caído no inferno. Servem a Yama (Emma), rei do inferno, que julga e determina as retribuições e punições aos falecidos. 19. LS, cap. 12, p. 188. 20. LS, cap. 12, p. 189. 21. WND, v. 1, p. 457. 22. No budismo, esse termo denota a ignorância em relação à verdadeira natureza da existência. É considerada a causa fundamental do sofrimento e da ilusão. Impede as pessoas de reconhecer a verdadeira natureza da própria vida e de abraçar a fé na Lei Mística, que possibilita a todos atingir a iluminação. 23. Essas palavras constam em Grande Concentração e Discernimento, de Tient’ai. A analogia é empregada para explicar que mediante o estudo constante, adquire-se uma compreensão mais profunda, assim como algo imerso repetidas vezes na tintura adquire um tom mais intenso que o da própria planta da qual se obteve o pigmento. 24. Nove consciências e seis consciências: A doutrina das nove consciências identifica nove tipos de discernimento. Elas são os cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato), a consciência-mente (que integra as percepções dos cinco sentidos em imagens coerentes), a consciência-mano (que corresponde ao domínio espiritual), a consciência-alaya (ou repositório cármico) e a consciência-amala (nível livre de qualquer impureza cármica e base de todas as funções da vida). Amala, a nona consciência, é a mais profunda de todas e constitui a natureza de Buda. As seis consciências correspondem às seis primeiras das nove consciências, ou os cinco sentidos mais a consciência-mente, a função espiritual que faz julgamentos e deduções em resposta ao estímulo externo. 25. Eternidade, felicidade, verdadeira identidade e pureza: Quatro nobres qualidades ou virtudes da vida de um buda. “Eternidade” é a natureza de Buda imutável e eterna. “Felicidade” corresponde à tranqüilidade e à alegria que transcendem quaisquer sofrimentos. “Verdadeira identidade” significa que a natureza de Buda é nossa verdade e base. Por fim, “pureza” corresponde a uma vida livre de conduta errônea ou ilusória. 26. TODA, Jossei: Toda Josei Zenshu (Obras Completas de Jossei Toda). Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1982, v. 2, pp. 446-447. 27. WND, v. 1, p. 458. 28. “Rei da mente” refere-se à essência ou núcleo da mente, que controla as diversas funções mentais. 29. “O palácio da nona consciência, a realidade imutável que rege todas as funções da vida”: A nona consciência é comparada a um palácio porque é a função central da vida, inseparável da verdade eterna e imutável. Leia em WND, v. 1, p. 832.
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