terça-feira, 15 de março de 2011

Ciência da Meditação

Do livro: A Ciência da Meditação
Rohit Mehta
Editora Teosófica – Brasília – DF
Janeiro/2009
Páginas: 26, 27, 28, 29, 30 e 31.

[...] O cérebro humano, como está constituído hoje, pode estar perdendo muitas das transmissões enviadas pela estação de rádio que é a mente humana. O professor Penfield, que é uma grande autoridade em cérebro humano, enquanto concorda que haja muitos mecanismos demonstráveis no cérebro que funcionam de modo bem mecânico quando chamados à ação, pergunta:

      Mas qual é o agente que requisita estes mecanismos, escolhendo um em detrimento de outro? Será um outro mecanismo ou existe na mente algo de essência diferente?... Concluindo, deve-se dizer que não existe ainda qualquer prova científica de que o cérebro possa controlar a mente ou explica-la completamente. As suposições dos materialistas jamais foram consubstanciadas.

            A afirmação acima, feita por alguém que é uma autoridade no assunto cérebro humano, indica a necessidade de se postular a existência de alguma entidade que tenha o poder de pôr um mecanismo cerebral em movimento em detrimento de outro tal mecanismo, como um dispositivo mais adequado para ir ao encontro das necessidades de um estímulo recebido ou um desafio imposto pela vida. Vivemos numa era de computação mecânica onde têm sido produzidos computadores memoráveis que resolvem intrincados problemas em questão de poucos segundos ou minutos. Embora isso seja verdade, ainda não foi desenvolvido um computador estabelecedor de metas. Deve-se dar ao computador uma meta ou uma direção, e quando isso é feito ele pode mover-se com extraordinária velocidade para produzir o resultado. Não há dúvida que o cérebro age como um computador, mas ele tem de ser apropriadamente alimentado. Não apenas isso, é preciso dar-lhe uma meta ou uma direção para onde se mover. Para entender o mecanismo estabelecedor de metas e solucionador de problemas, devemos examinar o funcionamento tanto da mente como do cérebro. Isso é essencial se quisermos lançar as bases apropriadas para se erigir a estupenda estrutura da meditação.
            Diz-se que enquanto o cérebro assemelha-se a um computador, não há computador que seja como o cérebro. O mecanismo do cérebro é por demais impressionante. Possui inteligência notável para lidar com as variadas situações da vida. Ele cuida das necessidades do corpo de uma maneira difícil de entender. John Pfeiffer diz em seu livro Human Brain (O cérebro Humano):

... o açúcar é uma das substâncias construtoras da energia do corpo e devemos ingeri-lo na quantidade certa, nem mais nem menos. Caminhamos sobre uma corda bamba entre o coma e a convulsão, resultado de possíveis mudanças relativamente leves nos níveis de açúcar no sangue. Mas o cérebro geralmente recebe informação antecipada sobre problemas pendentes. Ele recebe um fluxo constante de informações sobre os níveis correntes de açúcar, e faz os ajustamentos de maneira tão eficaz quanto um piloto guiando uma aeroplano atravéz de uma tempestade. Se houver açúcar demais, o excesso é queimado e excretado. Se houver de menos, o fígado é instruído a liberar a quantidade apropriada de reserva de açúcar. Observe no que implica tal controle. O cérebro deve saber o nível de açúcar adequado, cerca de 30ml para cada meio litro de sangue, em média. Ele deve seguir padrões semelhantes na regulagem da respiração (a maioria de nós inspira e expira dezoito a vinte vezes por minuto) e dos batimentos cardíacos (cerca de 70 vezes por minuto) e na manutenção da temperatura do corpo em 36 graus Celsius.

            Podem ser citados muitos exemplos semelhantes denotando a notável engenhosidade do cérebro humano em lidar com a regulação apropriada das necessidades corporais. O bem-estar biológico do corpo está perfeitamente seguro nas mãos deste notável instrumento construído pela natureza, a saber, o cérebro humano.
            Temos que lembrar que o cérebro humano tem dois componentes, um, o cérebro velho e o outro, o cérebro novo. O cérebro velho é a nossa herança da existência animal, ou pode ser, até mesmo anterior a isso. Mas lá está o cérebro novo, o córtex, que é o resultado da evolução humana, pertence inteiramente à humanidade, e é, portanto, comparativamente jovem. É um órgão em crescimento uma vez que a humanidade ainda está na sua infância, ou somente no estágio pós-infantil em termos de processo evolucionário. O cérebro forma uma parte muito importante em toda a historia evolucionária. A evolução, como é estudada pela ciência, nos diz que o cérebro tem sido o fator determinante no jogo da sobrevivência. A historia evolucionaria revela que houve um tempo em que a terra foi dominada por criaturas enormes e possantes, como os dinossauros. Houve um período na história da natureza quando esses gigantes moviam-se como se a terra existisse somente para eles. Todavia, quando abrimos o capitulo seguinte da historia evolucionaria descobrimos que essas criaturas enormes desapareceram e o seu lugar foi tomado por criaturas diminutas cuja existência não era sequer notada por esses animais gigantescos. Qual foi o segredo desta estranha substituição dos gigantes por criaturas tão pequenas e diminutas? O segredo deve ser encontrado no fato de que enquanto aqueles tinham cérebros com adaptabilidade muito limitada, esses tinham cérebros com maior poder de ajustamento. E na luta pela sobrevivência, aqueles que tinham maior capacidade cerebral continuaram a existir, enquanto aqueles com menor capacidade foram varridos do mapa.  Perderam o jogo da sobrevivência. Assim, o papel do cérebro é de tal que ele exerce uma influência determinante nas tendências do movimento evolucionário. Aqueles que tinham cérebros pequenos tinham uma gama limitada de adaptação. Enquanto as mudanças geológicas ou de outro tipo foram lentas sobre a face da terra, não surgiu a questão da adaptação mais ampla e mutante. Quando as condições na Terra eram comparativamente estáticas, as criaturas que tinham sobrevivido até então podiam continuar mesmo com a limitada capacidade cerebral. Mas quando as mudanças na Terra tornaram-se rápidas, o jogo da sobrevivência tornou-se cada vez mais feroz. Essas mudanças necessitavam capacidade de ajustamento e adaptação mais rápida e mais ampla. Isso acarretou o desenvolvimento de maior capacidade cerebral, pois o cérebro é o único instrumento de adaptação às condições exteriores da vida. Durante certos momentos críticos da história evolucionária, sempre surgiu a necessidade de uma adaptação mais nova. É durante tais períodos críticos e crises geológicas, que um maior poder de adaptação cerebral torna-se necessário. Na luta pela existência, foi a maior capacidade cerebral que assegurou a sobrevivência. Desse modo o cérebro exerceu uma poderosa influencia na luta evolucionária. O homem foi bem-sucedido contra a besta por causa deste maior poder cerebral. Em força muscular o homem era fraco comparado aos animais fortes e poderosos da floresta. Mas a maior capacidade cerebral do homem permitiu-lhe sair vitorioso no jogo da adaptação. O homem possui um cérebro cujos poderes são por demais surpreendentes, e ainda assim o cérebro novo é apenas uma criança, capaz de infinito crescimento nos seus poderes de ajustamento e adaptação.
            É um fato estabelecido que exista um estreito relacionamento entre mente e corpo. O predomínio das doenças psicossomáticas tem provado que mente e corpo estão intimamente ligados um ao outro. Não é apenas o fato de que a mente afeta o corpo, mas é também o fato de que o corpo afeta a mente. Mesmo nas disciplinas religiosas tradicionais pede-se ao aspirante para ser cuidadoso com respeito ao seu alimento, pois o alimento parece afetar a condição da mente. Acredita-se que a alimentação quente e estimulante excite a mente a ponto de ela não poder perseguir suas profundas atividades reflexivas. Pede-se ao homem que medita para abster-se de certos tipos de alimentação e bebida. Isso mostra que existe um inter-relacionamento entre a mente e o corpo. Não é apenas o corpo que afeta a mente, isso se dá também ao contrário – a mente afetando o corpo.
            Ao elevar-se aos reinos metafísico, estético ou matemático, a mente não pode também deixar de afetar o cérebro enquanto ele estiver engajado nessas atividades. Se o cérebro não for afetado, então as aventuras da mente estão fadadas a se tornarem estéreis, pois não haverá efeito correspondente sobre as ações e os comportamentos físicos da pessoa. Uma experiência espiritual necessita refletir-se em padrões e ações corporais. E assim, para uma vida espiritual e intelectual saudável devem, mente e corpo, funcionar juntos. Se a mente estiver ativa e o cérebro passivo e sem responder, então a pessoa está fadada a sentir-se frustrada. De modo semelhante se o cérebro estiver muito ativo e a mente estiver perdida na inércia do passado, então isso também faria surgir um estado doentio. A mente e o cérebro devem encontrar-se no mesmo nível, ao mesmo tempo e com a mesma intensidade, se a pessoa quiser levar uma vida saudável e criativa.

[...] A situação humana hoje em dia é tal que uma nova espécie de homem deve nascer se a presente crise de consciência tiver que ser resolvida. A nova espécie de homem certamente será fundamentalmente psicológica. Mas uma espécie psicológica não pode vir a existir sem uma mudança apropriada no nível do cérebro humano. As atividades da mente e do cérebro devem sincronizar-se, pois a nova espécie psicológica de homem deve também funcionar nos níveis físico e biológico. Se o mecanismo biológico não corresponder ao mecanismo físico, então um conflito novo e mais violento deve surgir. E já se ouvem os ribombos de um tal conflito na civilização de hoje.
            Devemos interrogar quanto à natureza do mecanismo biológico antes de considerarmos seriamente as mudanças no mecanismo mental, pois para se poder ir longe deve-se começar perto. E certamente que o cérebro humano é o ponto mais próximo de onde se pode começar a estupenda jornada da escalada do Everest espiritual da vida. Mas antes de podermos considerar a questão do novo mecanismo biológico, devemos compreender com clareza o papel e as funções do cérebro humano com referência à jornada espiritual da pessoa.

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