segunda-feira, 7 de novembro de 2011

[30] A máquina do tempo - Aprendendo sobre a vida a partir das ciências

Jornal Brasil Seikyo

07 DE JUNHO DE 2003 — EDIÇÃO Nº 1702

Esta série de artigos intitulada “Aprendendo sobre a Vida a Partir das Ciências” destina-se ao público em geral e apresenta breves explicações sobre temas do mundo científico. Os artigos foram escritos
por Akihisa Motoki, vice-coordenador do Departamento de Cientistas.



O desejo de viajar para o passado e de conhecer o futuro é comum a muitas pessoas. Desde o século XIX são produzidas numerosas obras e filmes com grande sucesso. Muitas pessoas acreditam que um dia uma viagem pelo tempo poderá ser realizada. Entretanto, viajar para o passado é inconsistente com a lei de causa e efeito.
Obviamente, o presente é o resultado de acúmulo das causas feitas no passado. Quando uma pessoa viaja para o passado e mata a si próprio, não poderia mais existir. Portanto, ela não poderia matar seu eu do passado. Mesmo não chegando a exemplo tão extremado, uma interferência no passado transforma o presente. Esta é uma contradição lógica. Portanto, uma viagem para o passado é logicamente impossível, independentemente da ciência e tecnologia.
Sendo assim, será que é possível a comunicação com pessoas do passado? Houve até um filme que chegou a abordar este assunto. Um filho que vive no presente conversa por meio de um comunicador de rádio com o pai que morreu há vinte anos de câncer no pulmão, superando a barreira do tempo. O pai fica emocionado com as palavras do filho e pára de fumar. No presente, o pai vivo aparece para salvar a vida do filho.
Este é um interessante tema de ficção, mas impossível de se tornar realidade. O filho transforma o presente alterando o passado. Essa história possui a mesma contradição lógica de uma viagem ao passado. O presente é inalterável, portanto, é impossível enviar uma pessoa, material ou informação ao passado.
Não se pode viajar ao passado e não se pode conversar com as pessoas do passado. Sendo assim, a única alternativa é observar o passado sem interferência. Ou seja, não se pode enviar nada para o passado, apenas receber informações dele. Isso não possui nenhuma contradição lógica e, assim, as dúvidas na história seriam esclarecidas, os crimes perfeitos seriam impossíveis e as mentiras de nada adiantariam.
As informações óticas do passado da Terra estão se espalhando no espaço na forma de luz. Por exemplo, a imagem do planeta Terra há cem anos pode ser vista a cem anos-luz de distância. Se houvesse uma civilização extraterrestre nessa distância, a imagem da Terra que eles observariam ao telescópio não seria a da Terra atual, mas a de cem anos. Se eles enviassem essa imagem a nós, poderíamos observar a imagem da Terra há cem anos.
Teoricamente, isso é possível de ser realizado, entretanto, na prática não. Se nós quisermos ver a imagem da Terra de cem anos, teríamos de solicitar para eles que enviassem a imagem que estivessem observando neste exato instante. Mesmo utilizando o meio mais rápido de comunicação, a onda de rádio, que se transmite à velocidade da luz, esse pedido levaria cem anos para chegar à civilização extraterrestre. Portanto, se pedíssemos agora, eles enviariam uma imagem da Terra de cem anos à frente. Se quisermos uma imagem do passado, o pedido deveria ser feito no passado. Portanto, não há como observar o passado a partir do presente.
Entretanto, podemos observar o passado de outras formas. A imagem e o som gravados em fita ou em DVD são reproduzidos no presente. O som pode ser reproduzido a partir de discos, fitas e CDs. A imagem fixa do passado é observada em fotografias. As imagens de eras antes dessas invenções modernas são vistas em desenhos e quadros. Na caverna de Altamira, na Espanha, existem figuras de caça que desenhadas há vinte mil anos. Os eventos históricos são registrados por escrito em livros. No Egito e na Mesopotâmia existem escrituras com cinco mil anos de idade.
No início da década de 1990 no Japão, foi inventada uma filmadora de vídeo que grava o passado. O preço era muito alto, mas a venda foi um sucesso por causa do grande interesse dos jornalistas. Mesmo em se tratando de uma imagem passada de apenas cinco segundos. A filmagem de um evento é feita após ele ter ocorrido, entretanto, utilizando-se essa filmadora, pode-se obter a imagem durante o acontecimento. Sendo assim, é possível filmar o momento do crime, obtendo as imagens dos criminosos.
Essa filmadora extraordinária não é magia ou feitiçaria, mas fruto de uma tecnologia baseada na lógica. A filmadora sempre está em ação, armazenando a imagem gravada na memória de semicondutores até a quantidade correspondente a cinco segundos. As imagens presentes na memória são sempre renovadas, portanto as mais velhas do que de cinco segundos são automaticamente apagadas. Quando a filmadora está na posição, o cinegrafista pode filmar o momento exato do início de um terremoto, basta que ele ligue a filmadora dentro de cinco segundos após o início do abalo sísmico. Hoje em dia, no início do século XXI, o preço da memória de um semicondutor baixou e um minuto de imagem é facilmente gravado. Essas tecnologias baseiam-se na lei de causa e efeito, sem nenhuma contradição lógica. Isto é, para registrar o passado, a filmadora deve estar em ação no momento do acontecimento.
Por outro lado, será possível viajar para o futuro? Parece uma viagem impossível e de fato é inviável com base na tecnologia atual. Entretanto, teoricamente é possível. Dentro de uma nave espacial cuja velocidade está próxima à da luz, a velocidade do tempo dentro da nave é mais lenta do que a da Terra. Vamos imaginar uma viagem de ida e volta em velocidade próxima à da luz para Alfa Centauri, a estrela mais próxima do Sol. O tempo necessário para esta viagem é de aproximadamente dez anos e, portanto, um astronauta retornaria à Terra dez anos após o lançamento. Entretanto, para o astronauta no interior da nave, a viagem para Alfa Centauri duraria apenas um momento e o retorno também. Quando ele retornasse à Terra depois da curta viagem, encontraria familiares e amigos dez anos mais velhos.
Um astronauta que viajasse à estrela Polar, que está muito mais longe, ao retornar encontraria tudo dois mil anos mais velho. Ninguém que ele conhecia estaria vivo e a sociedade deveria estar totalmente transformada. Em uma viagem ao centro da galáxia, haveria uma defasagem de cinqüenta mil anos para o astronauta e, dessa forma, ao retornar talvez a civilização humana não existisse mais.
Assim, um astronauta pode viajar para o futuro, porém não pode retornar para o presente. A viagem do futuro para o presente vai contra a direção do tempo. A viagem pelo tempo é unidirecional, sem retorno. De fato, todos nós fazemos essa viagem conforme a velocidade do relógio. A única coisa possível é variar a velocidade da passagem do tempo, mas que atualmente é tecnologicamente impossível. O tempo passa sempre do passado para o futuro e nunca retrocede. Por que é assim? Nem a ciência atual tem resposta ainda.
Atualmente, os meios para gravação de imagem e som tornaram-se baratos e fáceis. Isto é, o presente é registrado com facilidade. Em comparação com o passado, ficou mais difícil mentir, graças à gravação de som e imagem. As mentiras são facilmente reveladas de forma incontestável. O presente está sendo gravado na forma de imagens de televisão e voz de rádio e é registrado por letras de jornais. Entretanto, esses registros geralmente não representam a vida real das pessoas, sendo apenas informações gerais. O presente é apenas um momento, mas é muito importante.
Existem muitas pessoas que gostariam de viajar para o passado. Talvez porque desejem alterar o passado para melhorar o presente. Analisando comportamentos do passado, cada um pode descobrir muitos erros. É natural que se queira corrigir o passado, mas isso é impossível.
Por outro lado, com base nos erros do passado, pode-se melhorar o comportamento do presente e aprimorar o futuro. O presente é a causa do futuro e, portanto, o futuro está em nossas mãos. Esta é, na verdade, a principal maneira de se viver sem arrependimentos.

Budismo e ciência - Brasil Seikyo - Caderno Soka

Seikyo Brasil Seikyo - Edição 1702 - 07/06/2003 - Pág.C2 - Caderno Soka
Impresso por Gracilene Maria Daniel de Souza (67114-2) página 1

Recentemente, a imprensa divulgou as pesquisas de duas instituições norte-americanas que constataram que praticantes budistas são pessoas mais felizes e sabem lidar melhor com os revezes da vida. Não somente com relação a esse aspecto, mas cada vez mais os vários ramos da ciência vem desenvolvendo teorias e conclusões que se aproximam muito dos conceitos budistas. Esta edição do Cultura Soka se propõe a apresentar alguns exemplos dessas similaridades, as quais demonstram que budismo e ciência, na verdade, tratam de assuntos cada vez mais comuns.

Sanzen daisen sekai e a extensão do Universo

No capítulo Juryo do Sutra de Lótus consta a frase sanzen daisen sekai... go hyaju sen mannoku nayuta asogui, que significa aproximadamente “quinhentos quatrilhões de nayuta asamkhya de grandes mundos”.
Esse termo refere-se a uma antiga concepção indiana sobre o tamanho do Universo, o qual teria a escala de sanzen daisen sekai (ou seja, 5 X 100 X 1.000 X 10.000 X oku X nayuta X asogui). O termo oku pode ser traduzido por diferentes unidades, como 100.000, 1.000.000 ou 10.000.000. Nayuta pode ser considerado como uma unidade representando cem bilhões e asogui é um número seguido de 51 zeros.
Na realidade, essa expressão não significa uma quantidade exata, mas expressa a idéia de uma grande extensão, algo similiar à moderna concepção sobre a extensão do Universo. Atualmente, os cientistas acreditam que o Universo é incomensuravelmente grande e sabe-se que é plano, mas estende-se para o infinito pelas três dimensões.

Joju ekuu e a eterna mutação de todas as coisas

Tudo no Universo, do mais simples micróbio até as maiores estrelas, está em constante transformação e repete um eterno ciclo de nascimento, continuação, destruição e desaparecimento. O budismo também considera esse fato e denomina-o princípio de Joju ekuu, ou princípio da mutação, e esclarece que tudo passa por um ciclo de nascimento, maturação, destruição e extinção. Jo indica nascimento e crescimento. Ju indica maturidade. E, decadência ou declínio, e kuu indica o estado quando algo ou alguém desaparece e funde-se ao Universo.

Shiki shin funi e o relacionamento entre corpo e mente

Há muito tempo a medicina estuda o relacionamento entre o estado físico de uma pessoa e sua condição mental, estabelecendo inclusive um ramo específico para isso, a medicina psicossomática. O termo “psicossomático” foi criado em 1818 e designava as doenças que surgiam em decorrência de fatores mentais.
O budismo adota o conceito de shiki shin funi para explicar a interação entre o corpo e o espírito, incluindo-se aí também as atividades mentais. Shiki é uma abreviação de shiki-ho e representa a matéria e os aspectos físicos. Shin é uma abreviação de shin-po e representa os fenômenos espirituais e as atividades mentais, como o raciocínio, as emoções e a volição. Funi é uma abreviação de nini funi e significa literalmente “dois mas não dois”. O termo shiki shin funi pode ser então traduzido como sendo “dois fenômenos, mas não dois em número”.

Esho funi, a Hipótese de Gaia e a origem dependente

O conceito de esho funi explica a íntima relação entre o homem e seu meio ambiente, fato este que vem sendo já destacado há décadas pela ecologia. Esho é a abreviação de eho e shoho e funi significa “dois fenômenos, mas não dois”. Em termos simples, qualquer vida e seu ambiente estão intimamente relacionados, influenciando-se mutuamente. Por exemplo, o ambiente pode determinar o tipo de alimentação que cada sociedade possui. Essa mesma sociedade pode influenciar o ambiente, desenvolvendo-o ou degradando-o.
Já o termo “ecologia” foi criado por Hernst Haedel em 1869 e designa o estudo das relações de um organismo com seu ambiente orgânico ou inorgânico, a dinâmica dos ecossistemas e os relacionamentos entre todos os seres vivos uns com os outros. O estudo da ecologia ampliou-se e hoje ela já possui algumas ramificações, como a ecologia humana, que estuda a relação dos homens com seu ambiente em vários aspectos, e a ecologia urbana, que estuda as relações biológicas, culturais e econômicas entre os homens e o meio ambiente urbano.
James Lovelock, médico e biólogo britânico, foi um dos principais proponentes da Hipótese de Gaia, que afirma que os seres vivos e o material inorgânico são parte de um sistema único e dinâmico que forma a biosfera terrestre. Por sua vez, o budismo ensina que a própria Terra, incluindo não apenas os seres animados, mas também montanhas, rios e tudo mais, são um único organismo que interagem entre si, o que é explicado pelo conceito de origem dependente.