Material apresentado em pôster na Conferência Internacional sobre os Sete Saberes necessários para a Educação do Presente:
SABER IV – Ensinar a identidade terrena
As patologias sociais e as responsabilidades institucionais e de seus agentes.
CORPOREIDADE E A CONSTRUÇÃO DO SENTIMENTO DE AMOR A VIDA
Gracilene Maria Daniel de Souza
Governo do Estado do RN – QVT
Resumo:
O presente artigo é um estudo de caso, da implantação do QVT – EMATER-RN, dentro do fenômeno da corporeidade. Partimos do pressuposto que a corporeidade seja a linguagem comportamental entre corpo/mente/espírito, no caso, as representações de significados e seus efeitos correlatos. Como fazer uma mudança no contexto em que processamos significados para um salto criativo da nossa percepção de mundo? Pensamos ser essa uma das questões da crise de identidade terrena. O principal objetivo era de analisar e valorizar os pontos fortes das pessoas que participavam das atividades oferecidas e a importância da vivencia do grupo, para possíveis mudanças de hábitos, na perspectiva da felicidade e da construção do sentimento de amor à vida com qualidade. A abordagem metodológica adotada neste estudo foi de natureza participante, ressaltando a observação com o conceito Etnocorporeidade.
Palavras-chave: Sentimento de amor; Etnocorporeidade; Felicidade.
O presente artigo é um estudo de caso, da implantação do QVT – EMATER-RN, dentro do fenômeno da corporeidade. Partimos do pressuposto que a corporeidade seja a linguagem comportamental entre corpo/mente/espírito, no caso, as representações de significados e seus efeitos correlatos. Como fazer uma mudança no contexto em que processamos significados para um salto criativo da nossa percepção de mundo? Pensamos ser essa uma das questões da crise de identidade terrena.
A EMATER-RN é um órgão do governo do Rio Grande do Norte que tem como missão “Contribuir para a promoção do agronegócio e do bem-estar da sociedade, com foco na agricultura familiar, através do serviço de extensão rural pública com qualidade, para o desenvolvimento sustentável”[1]. Estava sendo cotada para ser extinta pelo governo em gestão há nove anos. Imaginem o sofrimento dos colaboradores, com familiares para sustentar, muitos deles com a idade já bastante avançada, sem perspectiva profissional. Sabemos que uma pessoa com idade avançada não é bem aceita no mercado.
Um grupo de pessoas, preocupados com a situação foi conversar com a então candidata ao governo, na época, propondo um forte apoio a sua campanha eleitoral, desde que, com sua vitória ela mantivesse esse órgão ativo. Comovida com a situação, aceitou o desafio. Imediatamente foi convocada uma reunião extraordinária e colocada a proposta feita e a promessa assumida. Todos colaboradores, com medo do que acarretaria, lutaram de corpo e alma por essa vitória, a vitória da própria vida. É difícil imaginar como seria a vida, de um grande grupo de pessoas desempregadas do dia para noite. Apenas quem vivenciou, sabe o quanto era valorosa essa vitória. A promessa feita foi cumprida. Os sentimentos de gratidão e respeito, que essas pessoas alimentaram no coração até os dias atuais, nós não fazemos idéia.
O resultado de todo esse sofrimento, que contado em poucas palavras, parece que foi uma coisa rápida, foi o suficiente para que alguns somassem muitos problemas de saúde. Apesar de serem pessoas bastante fortes, o homem do campo é muito sensível. Muitos não conseguiram manter equilibrado o emocional.
Os colaboradores que encabeçaram essa luta, logo começaram a perceber o resultado que esse sofrimento havia acarretado para um grande número de pessoas. Tornou-se crescente e volumosa a quantidade de atestado médico e o número de afastamento ao trabalho por falta de saúde, dando visibilidade a uma tomada de decisão emergente. Foi nessa situação que o programa de Qualidade de Vida da EMATER-RN foi gerado, com a intenção real de cuidar das pessoas. Hoje, ampliado e transformado em política de gestão pública para a rede estadual em todas as secretarias.
Para resolver o problema da melhor forma possível, foram realizadas, com a intenção de cuidar daqueles que tinham ficado mais debilitados, reuniões de estudo e reflexões sobre toda a situação, onde o principal objetivo era de analisar e valorizar os pontos fortes das pessoas que participavam das atividades oferecidas e a importância da vivencia do grupo, para possíveis mudanças de hábitos, na perspectiva da felicidade e da construção do sentimento de amor à vida com qualidade. O objetivo geral foi desdobrado em três específicos: 1.Refletir sobre aspectos fundamentais da corporeidade. 2.Apresentar conceitos, princípios e práticas do bem viver. 3.Discutir com o grupo o compromisso social dos indivíduos e o significado da felicidade.
A abordagem metodológica adotada neste estudo foi de natureza participante, ressaltando a observação com o conceito Etnocorporeidade, elaborado pela professora Katia Brandão Cavalcanti da UFRN. Este estudo por auto-observação é necessário porque parte do comportamento das pessoas é baseado em conhecimento não-falado, o conhecimento tácito. Assim, não era suficiente fazer perguntas, era necessário observar o que as pessoas faziam, as ferramentas que utilizam e como se relacionam entre si. Ser testemunha da própria participação no processo da vida com a vida privada, associada com práticas do bem-viver, como por exemplo: Salão de Beleza, Ioga, T’ai Chi Chuan, Dança de Salão, Caminhadas, Leitura de bons livros, Estudo em grupo, Cinema no trabalho e Iniciação musical; observando o “eu” no “outro” e o processo do movimento do próprio pensamento era a idéia da testemunha e do participante ao mesmo tempo, com o corpo físico, a roupa que veste nessa existência o próprio laboratório, ser o diferencial nesse método.
Partindo dessa idéia, resolveu-se elaborar um projeto denominado: “Fazendo Contas”. Para o grupo, foi o carro chefe do Ser Viver. Esse programa tinha o objetivo de aconselhamento e acompanhamento, de forma espontânea, bastante sigilosa e respeitosa, a todos que tivessem o desejo de solucionar os problemas financeiros.
Criou-se a “Rádio Corredor”. Essa idéia foi bastante interessante, pois ficávamos nos corredores ouvindo uma conversa aqui e outra acolá, para sentir de perto as necessidades de cada um, em um momento de descontração, quando iam tomar água ou cafezinho. Tudo era pensado com muito carinho. Segundo CAVALCANTI[2], todo processo com pretensões a mudanças, a prática da escuta vivencial deverá ser o centro das ações.
Em uma das reuniões, foram criados os princípios norteadores para dar rumo às ações que são: Valorização do ser humano; Elevação das condições de vida e saúde no trabalho; Integração entre servidor e cidadão; Alinhamento permanente às opções estratégicas do modelo de gestão do RN. E onde ancorar para o programa fluir com mais naturalidade? As ancoras criadas foram: Promoção da saúde; Segurança no Trabalho; Integração social (esporte, lazer, educação e cultura); Responsabilidade social (família e comunidade).
Logo na seqüência, foi elaborado um grande questionário e distribuído para todos os colaboradores dessa autarquia, com o intuito de coleta de dados, para que tivéssemos indicadores dos reais problemas em profundidade para possíveis soluções. Como resultado e para nossa surpresa, o indicador mais forte foi “a falta de valorização profissional”. Pensávamos que seria o baixo salário.
E a pergunta que não queria calar: O que fazer para sentirem-se valorizados? Imediatamente, pensamos em um espaço de beleza, para elevar a auto-estima. Começamos com manicure, depois completamos o salão com uma cabeleireira: corte de cabelos, lavagem e escova.
Logo tivemos a idéia de criar um link na página da EMATER, com a intenção de colocar todas as fotos, de todas as atividades que fazíamos. Todos, todos os dias, abria a página para ver se lá estavam. Pessoas que eram até então invisível para alguns, passaram a ser visíveis para todos. Passaram a se conhecer melhor e trocar idéias. Altas gargalhadas de se verem nas atividades que fomos criando. Como acontecia? Iam se revezando nos setores, entre os colegas, para que todos pudessem participar, sem prejudicar o andamento das suas funções e sem prejudicar as atividades da autarquia, que não podia parar, pois cuidava do homem do campo de todo estado e a responsabilidade pelo compromisso assumido com a atual governante do estado.
Para nossa surpresa e até inocência, estávamos sendo observados por todos que pesquisavam QVT. Foi quando o sucesso de nosso programa foi inevitável, mesmo não sendo essa nossa intenção. Os resultados foram “a prova real” na vida das pessoas, em satisfação com o viver, melhoria na saúde e rendimento no trabalho. A metodologia estatística empregada foi à contabilização da diminuição das faltas ao trabalho com atestados médicos. Pensamos encontrar outra possibilidade de viver em uma sociedade de controle, numa outra maneira de se relacionar com o mundo e com os outros e as modificações subjetivas do que vivenciamos na pele como no “faz de conta” onde “Tanto o feiticeiro como os enfeitiçados são ao mesmo tempo conscientes e iludidos. Mas um deles escolhe o papel de iludido”. (HUIZINGA, 2001, p. 27).
Fomos ganhadores do primeiro lugar no QVT em órgão público a nível nacional, concedido pela ABQV no ano de 2006. Temos a idéia de que quando você é observado nos seus pontos fortes, essa energia se expande ao ponto de seus pontos fracos caírem no esquecimento e serem transformados naturalmente. “Existência é vibração. O universo inteiro vibra, e cada coisa gera a sua própria freqüência, uma freqüência que é única”. (EMOTO, 2006, pág. 32). As vibrações se atraem e interagem. Não podemos mudar o passado, mas podemos mudar o futuro no eterno, no momento ‘agora’ quando o observamos com rigorosidade e naturalidade. Esse momento ‘agora’ não é manchado nem pelo passado nem pelo futuro, pois é o momento da criação.
“A freqüência de tudo que existe no cosmo se resume a sete elementos, a teoria do dó-ré-mi-fá-sol-lá e si. A freqüência em forma de som nos dá a revelação mais importante que é a da ressonância. Os sons que tem a mesma freqüência ressoam [...] criando uma onda sonora que possui a mesma freqüência. Quando um lado cria uma freqüência e o outro reage com o mesmo som, eles ressoam”. (EMOTO, 2006, pág. 71).
Podemos pensar em contagiar, ressoando como uma onda que propaga sentimentos de felicidade e amor.
Quando priorizamos ações que possibilitem uma melhor qualidade de vida às pessoas, buscamos promover um bem estar biopsicossocial, e integração interpessoal, criando mecanismos para cuidar das necessidades imediatas, onde uma melhor convivência no trabalho com certeza surge, contagia e ressoa como uma onda que propaga sentimentos de amor.
O aspecto real da vida humana é de um lado, possuir a unidade interior animada por um ritmo biológico que se pode qualificar de “força motriz” e, de outro lado, desdobrar uma força ativa com respeito ao mundo exterior. Quando se busca em profundidade a razão de ser da vida e a fonte original da energia vital, pode-se chegar à concepção da vida do universo. Por outro lado, a energia vital, que brota da fonte original e criadora da vida do universo, possui sempre a força motriz e a força da ação. Estas duas forças são capazes forte e rapidamente, de ampliar o ritmo da vida ao nível de universo. O entrelaçamento é uma realidade que envolve pequenas partículas subatômicas, como elétrons e fótons. Todos os dados são escritos apenas com dois símbolos, o “0” e o “1”. Se a eletricidade corre para a esquerda significa 1 (positivo), e se corre para direita significa 0 (neutro). Positivo significa ‘ação’ e o neutro ‘não reação’, ou seja, simultaneamente em sincronismo, som silêncio, dia noite, vida morte, existência não existência. Indica com isso que o negativo fomos nós quem criou. Nessa pseuda morte momentânea, a cada momento “agora”, temos a possibilidade de nos re-criarmos em uma nova pessoa ou escolher ser a mesma, caso nos amemos assim, como somos. O que precisamos a cada momento “agora”, é aprender a pulsar na freqüência 7.83Hz, a que pulsamos quando somos recém-nascidos, a conhecida freqüência Schuman. Qual mecanismo provoca esse esquecimento?
BIBLIOGRÁFIA
EMOTO, Masaru. Hado - Mensagens Ocultas Na Agua. São Paulo: Cultrix, 2006.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O Jogo Como Elemento da Cultura. Tradução: João Paulo Monteiro. São Paulo: PERSPECTIVA, 2008.
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