segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tai chi chuan e a construção do sentimento de amor à vida

Resumos publicados em anais de congressos
DE SOUZA, Gracilene Maria Daniel - Tai chi chuan e a construção do sentimento de amor à vida. In: II Encontro Nacional de Ensino de Arte e Educação Física, 2005, Natal. Livro de resumos do II Encontro Nacional de Arte e Educação física: ação na escola / José Pereira de Melo (org.). _Natal/RN, 2005.. Natal: José Pereira de Melo (org.)., 2005. v. 1. p. 01-80.

DE SOUZA, Gracilene Maria Daniel
PQVT – Governo do Estado do Rio Grande do Norte


RESUMO:

O estudo reflexivo que vem sendo desenvolvido permite ressaltar que o T’ai Chi Chuan é uma arte marcial corporal de origem chinesa, considerada a suprema arte da vida. Seus mestres eram observados como símbolos de sabedoria por praticarem a justiça, caridade, educação e artes da medicina. Um modo de vida cuja prática permite cultivar a saúde física, possibilitando o desenvolvimento da flexibilidade e da coordenação motora e de qualidades como disciplina, concentração, percepção e autocontrole, aspectos tão negligenciados nesse mundo acelerado que se vive. Com intuito de preencher lacunas existentes, as brechas de infiltrações, esse projeto vem propor um esforço na busca de integrar teorias, na tentativa de trazer explicações com propostas que enfatiza hipóteses que o processo de informações vinculadas ao pensamento, à forma de pensar, no qual a percepção se inclui, não podem ser explicadas apenas pela ação de redes neuronais com suas sinapses, mesmo sabendo da vital importância da atuação dessas redes ao processo como um todo. A pesquisa visa trabalhar primeiramente, com a idéia de que essa prática irá contribuir para a percepção da educação do educador em seu autoconhecimento profundo, acreditando ser o salto qualitativo. Afinal, o que é a realidade da intencionalidade dos sentimentos?

Palavras-chave: T’ai chi chuan, sentimento, amor à vida.




Problema:
Afinal, o que é a realidade da intencionalidade dos sentimentos?


O estudo reflexivo que vem sendo desenvolvido permite ressaltar que o T’ai Chi Chuan, essa meditação em movimento, é uma arte marcial corporal de origem chinesa, considerada a suprema arte da vida.
Seus mestres eram observados como símbolos de sabedoria por praticarem a justiça, caridade, educação e artes da medicina. Um modo de vida cuja prática permite cultivar a saúde física, possibilitando o desenvolvimento da flexibilidade e da coordenação motora e de qualidades como disciplina, concentração, percepção e autocontrole, aspectos tão negligenciados nesse mundo acelerado que se vive.
Para a produção da pesquisa a que propomos que é trazer os princípios do T’ai Chi Chuan, na tentativa de explicá-los do ponto de vista neurológico, psíquico fisiológico, tais como a verticalidade do tronco, o porquê disso poder, de fato, dar uma sensação de equilíbrio, leveza, soltura e desprendimento, associando a energia vital, uma verdade para o Oriente e uma inexistência para o Ocidente, vai ser o nosso “Ponto de Mutação” (CAPRA, 1982).
Há uma singular diferença perceptível entre o modo chinês de pensar, quando colocados em contraste com o ocidental. O pensamento chinês ocupou-se, acima de tudo, com a percepção e compreensão das manifestações da natureza, dela procurando extrair os ensinamentos mais profundos. Aprendeu sobre as leis que regem os fenômenos da natureza utilizando esse conhecimento para o seu próprio desenvolvimento e bem-estar. Imagina-se que os primeiros conhecimentos adquiridos foram bastante simples, mas com o passar dos tempos, tornaram-se mais complexos, abstratos e profundos.
Para transmitir através de tempo e espaço, lançou mão de símbolos e desenhos, posteriormente caracteres e letras.
Houve uma evolução da linguagem oral ou escrita, pela necessidade do desenvolvimento do raciocínio e da capacidade de abstração do ser humano, altamente elaborada e decisiva no cotidiano das pessoas. O impacto causado pela linguagem, em cada um depende de diversos fatores. Um dos principais é a capacidade de compreender o significado e atribuir valores a essas palavras ou símbolos, e esse significado pode parecer distante da realidade da maioria das pessoas.
“Um dos aspectos fundamentais da história do desenvolvimento humano diz respeito ao modo como a maior parte dos objetos que nos rodeiam acaba por ser capaz de desencadear emoções, fortes ou fracas, boas ou más, conscientemente ou não”. (DAMÁSIO, 2003, p. 63).
A força das palavras ou dos símbolos é intrínseca a elas, mas sob certo ponto de vista, sua manifestação depende de quem as utiliza e de que forma.
Ter a compreensão de um conhecimento produzido pela humanidade com seu papel na história dessa produção implica em uma percepção de tempo/ espaço, com as tendências da época.
Neste sentido, a idéia de Mutação, expressa pelo ideograma "I" no nome do livro “I Ching",  constitui-se num dos pilares do modo chinês de julgar por suposições e filosofias, observável nos domínios de suas criações intelectuais como um todo. Neste modo de entendimento, “A Inseparabilidade do Ser e seu Ambiente”, (esho-funi em japonês) é um princípio budista que diz que nossa existência e o Universo são unos e funcionam em sintonia. Cada vida é um microcosmo com o mesmo poder e dimensão do macrocosmo (...) "o humano, em particular, não vive separado do resto do universo, mas em harmonia com ele. Do macrocosmo ao microcosmo, as mesmas leis regem a vida e a morte e exprimem o princípio universal: o Tao".
Textos legados pelo budismo e taoísmo nos informam sobre um ‘sopro primordial’, denominado Qi (ou Chi), preexistente à formação do céu e da terra e por isso, na prática do T’ai Chi Chuan, meditação em movimento, estamos sempre retornando a estes legados de enraizamento com a terra e leveza como as nuvens numa tentativa de retorno ao ponto primordial.
Nesse momento, a pesquisa não está dando uma ênfase maior ao T’ai Chi Chuan, por entender ser como um meio e não como um fim. O que estamos observando são os sentimentos, (...) “o fenômeno da emoção”. (DAMÁSIO, 2004, p. 95).
Não queremos ser mais um amontoado de papeis em estantes de universidades sem utilidades, onde sirva apenas de títulos para os egos.
Trabalhar com a idéia de ‘conduzindo pessoas ao seu universo interior’, carece de um auto-aperfeiçoamento constante, (...)“autodesenvolvimento através da autotranscendência” (...) (CAVALCANTI, 2005), buscando informações nas mais recentes pesquisas, trocando experiências com outros profissionais, dialogando com outras áreas de conhecimento, para não correr o risco de negligenciamos a própria vida.
            A pesquisa também está cautelosa na escolha dos seus atores, por ser um tema relevante, onde os envolvidos terão que ter um grande comprometimento, devido à seriedade da abordagem, onde há um total interesse de retornar para a comunidade acadêmica com um maior aprofundamento com a Corporeidade, que traduz (...) o estado da vida na linguagem do espírito, (DAMÁSIO, 2004, p. 91) por meio dos sentimentos, que no caso, entraria como a metáfora da máquina do Trem puxando os seus vagões, no Tao dos trilhos, caminhando em linhas paralelas com as demais disciplinas.
            A pesquisa visa trabalhar primeiramente, com a idéia de que essa prática irá contribuir para a percepção da educação do educador em seu autoconhecimento profundo, acreditando ser o salto qualitativo.
O que a pesquisa já observou e, faz ênfase nesse ponto, é a importância que essa prática exerce no desbloqueio do caminho da energia vital ‘naquele momento da prática’, que “Quando a energia se armazena dentro de nós sem uma liberação natural, criamos tensão” (HUANG, 1979), provocando dores musculares. A pesquisa faz ênfase ‘naquele momento da prática’ a forma de pensar e perceber a vida sem um aprofundamento dos nossos próprios pensamentos e sentimentos latentes, ficando sem serem observados, de nada adianta essa prática, pois ficaremos apenas na superfície e os bloqueios voltam todos para os mesmos lugares, ficando a prática do T’ai Chi Chuan ineficiente em sua profundidade. As pessoas, muitas vezes, crêem que desenvolveram ao máximo, aprendendo apenas aspectos físicos, a aparência, ficando apenas na forma, que não passa, na realidade, de coreografias de movimentos, que “não é mais do que um arranhão na superfície”. (SOO, 1989, p. 11).
Quando a ciência possuir, a partir de estudos abertos às experimentações criativas e reflexivas do ser humano, com maior entendimento do processamento de informações relativo ao conjunto mente/ cérebro, recursos capazes de superar os limites dos atuais, com o desenvolvimento de sistemas autônomos, pró-ativos e negociáveis, com um elevado potencial previsto e, sobretudo dos sistemas perceptivos teremos dado um salto de qualidade com quantidade. Tendo em vista que, o estado da arte, nesse conjunto de regras e operações bem definidas de filtragem e percepção, podem ser combinados com e para a realização de um trabalho que informe atributo de baixo nível, porém incapazes de voltar ao contexto, ou seja, capazes de informar ‘um pincel em cima de uma mesa’, porem incapazes de informar ‘o que o seu usuário está pensando no que vai pintar com aquele pincel’. Os neurotransmissores e o processamento neural modulado por eles, para que se tenha entendimento do fenômeno natural da ‘percepção’, não dá por si só o subsídio necessário, onde os argumentos existentes, na explicação de um fenômeno que transcende a compreensão humana são insuficientes. Não existiam meios de explicações com experimentos que respondesse ‘qual a intencionalidade’, o profundo das ações, habilidades estas, que assumem uma função de grande dimensão em quase todos os estágios perceptivos. Hoje já temos – IONS – INSTITUTE OF NOETIC SCIENCES, um instituto de pesquisa sem fins lucrativos localizado na Califórnia, fundado em 1973 pelo ex-astronauta norte-americano Edgar Mitchell, que atualmente é dirigido por Marilyn Schlitz.   
Para sairmos da superfície da forma, a pesquisa entende que há uma necessidade de aprofundamento sobre como nos percebermos nos nossos sentimentos latentes.
Uma metodologia reflexiva, onde abra possibilidades para uma compreensão maior desse processo, que forneça elementos que contribua para os sistemas perceptivos a partir de uma metáfora biológica, buscando entendimento da percepção com uma visão histórica, no sentido de mostrar possibilidades de integração da percepção como um elemento de vital importância, enfatizando o aspecto do senso comum e, sobretudo as características complexas das informações com origem no campo das percepções, iniciando com uma abordagem contextual do seu meio ambiente histórico comumente tratado pela psicologia cognitiva e filosofia, as quais constroem modelos para explicar como funciona a mente a partir de conclusões psicológicas. A neurociência vem buscando o processamento pelas redes neuronais com um reducionismo do comportamentalismo.
Esse projeto vem propor um esforço na busca de integrar teorias, com intuito de preencher lacunas existentes, as brechas de infiltrações, na tentativa de trazer explicações com propostas que enfatiza hipóteses que o processo de informações vinculadas ao pensamento, à forma de pensar, no qual a percepção se inclui e que não podem ser explicadas apenas pela ação de redes neuronais com suas sinapses, mesmo sabendo da vital importância da atuação dessas redes ao processo como um todo.
Os jogos de intenções, emoção, memória e pensamento, que ocorrem no campo mental de alto nível, onde reside à totalidade das funções complexas da mente em harmonia e interação com as atividades cerebrais, cuja estrutura é acoplada ao cérebro é o ponto que precisa ser observado com maior seriedade por pensarmos ser a energia sutil da violência passiva o maior problema da violência da humanidade nos dias atuais. Resolver a relevância dos aspectos em relação à ‘crise de percepção’ como uma estrutura cognitiva com ampliação de entendimento dando início a discussões com um tratamento antirreducionista da temática, imaginamos ser um bom começo.
A violência passiva está sendo considerada atualmente a pior das violências, pelo simples fato de não ser externada verbalmente e sim energeticamente, que são os sentimentos negativos, exatamente os que bloqueiam o caminho da energia vital.“Uma reforma grande e interna é imperceptível na superfície, mas nunca falha em ter uma irresistível e vigorosa influência no mundo físico”. (IKEDA, 1980, p. 165)
“Os objetos emocionalmente competentes (...)” (DAMÁSIO, 2004, p. 64), que possibilita externar toda uma reação corpórea, toda corporeidade não prevê a intencionalidade, a não ser por deduções.
Porque nos percebemos tão diferentes dos nossos iguais?
A maioria das escolas apenas ensina o aspecto físico da arte, por considerar a vida física separada da espiritual, sendo uma inverdade, pois ambos (...) proporcionam o equilíbrio perfeito entre yin e yang, ajudando cada pessoa a apreciar o lado espiritual de sua vida, do Tao e dos campos de energia dentro do universo (Li)”.  (SOO, 1989, p. 05).
O T’ai Chi Chuan passa-nos uma significação de suprema integração entre o positivo e o negativo, exatamente por que:
“A única maneira de atingirmos o verdadeiro equilíbrio, sem perdermos a sensação de centralidade proporcionada pelo circulo, consiste em pensar em termos de energias opostas movendo-se em harmonia, união, em interligação” (HUANG, 1979, p. 28 - 29).
O símbolo Yin e Yang representam que as diferenças estão contidas intrinsecamente, como em uma moeda, onde o yin e yang sejam os dois lados dessa mesma moeda, onde o rígido contém o macio, o duro contém o mole, o mal contém o bem e  vice-versa sucessivamente. “É importante, e muito difícil para nós, ocidentais, entender que esses opostos não pertencem a diferentes categorias, mas são pólos extremos de um único todo. Nada é apenas yin ou apenas yang”. (CAPRA, 1982, p. 33).
Penso que o grande desafio da humanidade seja ‘revelar a verdadeira identidade’, quero dizer, nos identificarmos com o outro mais do que nos diferenciarmos, percebendo que somos todos iguais quando revelamos o verdadeiro aspecto das nossas vidas.
“Assim, a consciência é uma só e universal, ou como expressou Erwin Schrödinger, um dos co-descobridores da matemática quântica, a consciência é um singular para o qual não existe plural. Não existem duas “consciências”; a nossa individualidade é um epifenômeno ilusório da experiência [...]” (GOSWAMI, 2006, pág.78).
O X da questão é perceber que o que colapsa no outro, naquele momento, está contido em nós, e que com antecedência (...)“mostram tendências para ocorrer”, (CAPRA, 1982, p. 74–75), que são todas as outras possibilidades que não escolhemos, mas as temos intrinsecamente.


O CORPO FALA E O SENTIMENTO EXALA NO AMBIENTE

Suponhamos que o motivo pelo qual ocasionam bloqueios do caminho da energia, causando tensões, sejam os nossos sentimentos negativos latentes, que vamos acumulando nas nossas interrelações com pessoas, objetos e situações no nosso cotidiano, do qual o nosso interior é influenciado pelo ambiente externo, como diz Damásio, “A reação, a emoção no sentido literal do termo, é seguida por um sentimento”, (DAMÁSIO, 2004, p. 20) que quando negativo, provoca enrijecimentos musculares, impedindo que a energia vital circule com fluidez em determinados órgãos de forma adequada causando, como efeito, um desequilíbrio orgânico provocando doenças.
Um dos pressupostos é que, ao exalarmos gases, que ao entrar em contato com os raios solares, formam as partículas de energia, que nos mantém vivos,[1] e estas partículas estão carregados de sentimentos, que dependendo desse sentimento, se negativo ou positivo, impregna todo o ambiente natural. Vamos imaginar que essa energia que exalamos esteja acumulada de sentimentos negativos, de pessoas que interagiram ou se na tentativa de retirar o sofrimento das pessoas, absorvem essas energias potencializadas com sentimentos dos estados de vida inferiores ou nível de consciência baixo, com cargas elétricas muito fortes, onde a descarga cause um curto circuito fechado e detone vidas inocentes.
Digamos que o acúmulo dessa energia absorvida pelos sentidos, por alguém ou um animal que não tem a habilidade de dissolvê-la, sem saber como transformar, deve ocasionar um estrago grande ao corpo físico, mas que nesse processo de transformação, ocasiona um desgaste físico muito grande, onde o efeito é uma diminuição do tempo de vida manifesto das pessoas que adquiriram essa sensibilidade.
Mas se o número de pessoas for consideravelmente grande, com essa consciência, com a percepção dos seus reais sentimentos, facilitará o processo, pois é como se dividíssemos a responsabilidade de um pequeno número de pessoas, para o todo, onde todos saem ganhando.
Quando percebemos que somos totalmente ruins e totalmente bons, nessa dualidade incorporada, despertamos para os nossos sentimentos latentes e essa é a grande sacada. “Na verdade, vida e egoísmo são termos interpermutáveis. Se isso é verdade, é também verdade que o preço do altruísmo é a morte”. (TOYNBEE, 1995, p. 22).
A segunda hipótese é o doar a própria vida, que muitas religiões pregam, na verdade é despertar para uma compreensão do ciclo nascimento e morte como um dos sofrimentos da vida em estado manifesta, onde há um processo de desapego dessa existência em doação a compreensão do outro, que no real é de si mesmo.
Bom seria que as pessoas tivessem a ampla compreensão de perceber seus próprios sentimentos, em uma viagem ao seu interior, poupando assim a diminuição do ciclo de vida manifesto de muitas vidas. (...) A abnegação ou o auto-sacrifício significam orientar-se para um centro do universo que não é o próprio”. (TOYNBEE, 1995, p. 22).
Começamos a refletir esse tempo de vida manifesto juntamente com o tempo de vida dos grandes homens, que se doavam na tentativa de se fazer entender em seus escritos, das verdades que haviam despertado, como o Nietzsche, que viveu 56 anos, dos quais, mais de onze anos em estado de demência, antes de falecer, pois não teve forças para suportar tamanha energia negativa dos sentimentos de inveja e ciúmes de pessoas próximas. Por ter  se lançado ao mundo de forma corajosa, atitude que muitos não têm, na tentativa de que, com suas percepções da natureza humana pudessem salvar as pessoas. Spinoza parecia ter vislumbrado soluções para os problemas humanos que só agora a ciência começa a oferecer ao mergulhar na natureza das emoções e dos sentimentos e na relação corpo e mente (CAVALCANTI, op. cit., 2005), e que também ficou impossibilitado de divulgar suas descobertas, seus escritos na época, pois muito cedo passou a ser perseguido e aos 24 anos teve que abandonar o conforto do seu lar e se aventurar pelo mundo.
Tivemos também Tsunessaburo Makiguti (1871 – 1944), fundador da SGI – Soka Gakkai Internacional, que faleceu na prisão, perseguido pelo governo da época, pelo fato de pensar de forma diferente e não abrir mão de seus ideais. Sócrates, acusado de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria, teve que esperar a morte no cárcere, falecendo aos 71 anos de idade. Giordano Bruno sofreu perseguições quase toda sua vida, falecendo queimado na fogueira. Jesus Cristo, Tiradentes, Mahatma Gandhi, dentre outros que sofreram grandes perseguições por terem despertado para grandes verdades absolutas da vida. Alguns não suportaram tamanha pressão e atentaram com a própria vida, como aconteceu com Einstein, no dia 11 de abril de 1955, assinou um manifesto pacifista e antinuclear e alguns dias depois sofreu a ruptura de um aneurisma da aorta e recusou fazer uma operação. (SIMMONS, 2003, p. 36). 
Pensamos que não é bem a falta de apoio de políticos ou uma organização para desenvolver um método eficaz, pois existiram e existem muitos outros, que mesmo em organizações políticas e sociais tem que sair fugindo, se escondendo, para não ser detonado por essas forças, perseguidos mesmo a distâncias por armas eletromagnéticas de forma absurda. A primeira coisa que as pessoas fazem, quando estão com sentimentos dos estados de vida inferior é rotular aquela pessoa de desequilibrada mental, abandonando-a, isolando-a como se fosse algo perigoso. Que sentimento avassalador é esse?     
Pressupomos também, que as quantidades elevadas de informações visuais impedem ou causam bloqueios do que realmente deveríamos enxergar, pois o excesso de imagens obscurece a nossa visão de enxergar o real, confundindo a nossa mente, como na história do rei Édipo, que após cegar seus os próprios olhos, percebeu o que realmente precisava enxergar.
“A imagem que vemos tem como base alterações que ocorreram no nosso organismo, no corpo e no cérebro, conseqüentes à interação da estrutura física desse objeto particular com a estrutura física do nosso corpo”. (DAMÁSIO, 2004, p. 210).
Somos uma unidade no ambiente, separado apenas pelas partículas que nos compõem, que segundo Damásio “Uma mente consciente é aquela que acaba de ser informada das suas relações simultâneas com o organismo dentro do qual se forma, e com os objetos que rodeiam esse organismo” (DAMÁSIO,2004, p. 228).
Suponhamos que a idéia seja a seguinte: como no filme ‘A corrente do bem’, de vida a vida e de coração a coração. Esse coração carregado com o sentimento de compaixão conduz as pessoas ao seu universo interior, com a propagação do mantra. Funciona quando cada pessoa passa para a maior quantidade de pessoas, e essas por sua vez a outras. Entender que ‘dessa forma posso contribuir para a paz do planeta’, como se cada um fosse fazer algo de muito bom para o outro, algo que imaginamos ser impossível de conseguir.
Propagamos para pessoas, em uma corrente ininterrupta, com a idéia de que se apenas uma pessoa falhar, todos saem perdendo. Dessa forma, ficamos apoiando uns aos outros com incentivos para que não sejamos derrotados. No real, para que vençamos nossas fraquezas e com isso passamos a ser uma pessoa melhor a cada dia, em uma grande família cósmica. Imaginemos uma pessoa na escuridão inata da vida ser como uma célula demente, como uma célula cancerosa no corpo do cosmo, que mata esse corpo e morre junto, pensando apenas em si, nos seus projetos de vida pessoal, nas suas ilusões psíquicas.
Pensamos da seguinte forma: a cada vida que salvamos da escuridão inata, pensar dessa forma é ilusório, pois no universo temos ‘oportunidades’ de exercermos o ‘Humano do nosso Ser’ e aquelas vidas que pensamos ‘precisarem’ são como corpos que doaram suas vidas para que possamos nos perceber em projeção, que Jung[2], “(...) um grande estudioso da mente humana, acreditava que, basicamente, a vida de todos os seres humanos repousa numa fundamentação comum”(...), o qual chamava de (...)“inconsciente coletivo e que contém uma herança que remonta ao começo da humanidade”. No momento em que saímos do nosso ego, do nosso umbigo que não é o centro do Universo, transcendendo espiritualmente, que coloca muito bem Kant[3], quando diz que, (...) “o homem percebe o mundo exterior numa moldura espacial e temporal”, e que além dessa moldura de tempo e espaço, onde apenas reconhecemos, medimos e calculamos, transcendendo as paredes da nossa casa para a casa do outro do nosso tempo ilusório, para uma dedicação ao outro, nessa relação ‘Eu-Tu’ (BUBER, 2004) em extensão, estimulamos um despertar de um estado de vida adormecido, inerente ao nosso corpo, para verdades absolutas, com um sentimento altruísta que estou salvando aquela vida dessa escuridão, onde na verdade estamos salvando a nós mesmos, pois somos uma unidade em energia, uma unidade em essência.
“A atitude de abertura do homem e a doação originária do ser formam a estrutura da relação Eu-Ser. ‘A essência do ser se comunica no fenômeno’, diz Buber. A contemplação é a atitude que instaura a presença imediata do homem-Eu ao mundo”. (BUBER, 2004, p. 33).   
Mas esse sentimento, para que funcione, precisa está carregado de um sentimento puro de amor incondicional, senão não funciona. É quando começamos a despertar para as nobres virtudes que são: verdadeira identidade, eternidade, felicidade e pureza.
Corpo, corporalização, corporalidade, noções fundamentais para se compreender o pulsar da vida humana, a energética do Ser. O corpo é a legitimação espaço-temporal do Ser no mundo. A corporalização traduz a dinâmica entre o manifesto e o não manifesto da subjetividade humana. A corporalidade ou corporeidade refere-se ao campo existencial das vivências, historicamente vividas pelo Ser corporalizado. (CAVALCANTI, 2005).  
Existem, na filosofia budista, alguns princípios básicos, um deles é esho-funi (IKEDA, 1995, p. 22), que é “Inseparabilidade do Ser e seu ambiente” e outro princípio são intitulados ‘Itinen Sanzen’, que quer dizer ‘três mil mundos em um único momento de vida’, ou três mil possibilidades de escolhas que se apresentam, a cada instante na nossa vida, consciente que as escolhas que não faço colapsam em outras dimensões, ou seja, acontecem em outros corpos, onde no vácuo (kuu em japonês) estão gravadas memórias, em um número incalculavelmente grande, das inter-relações do todo com o todo existência após existência, que é onde entram as incertezas do mundo subatômico de Werner Heisenberg.  
Faremos um paralelo com algumas informações sobre a herança genética e o meio ambiente: “Segundo a teoria desenvolvida por Gregor Mendel, pai da genética, a base do fenômeno da hereditariedade é a transferência de traços dos pais para os descendentes”(...)[4], onde os genes servem-se de um mecanismo fixo para a transmissão da hereditariedade. Já o biólogo russo Lysenko, acentua a importância do meio ambiente na hereditariedade, onde diz que a (...)“hereditariedade consiste no fato de a natureza dos organismos exigir determinadas condições fixas para sua vida e crescimento, e reagir de certas maneiras a essas condições”[5]. Não apenas ele, mas outros cientistas russos acreditam que a “hereditariedade deve ser entendida como uma parte do padrão metabólico dos organismos”[6] . A colocação que fazemos é a relação homem/ ambiente que ele coloca muito sabiamente, mesmo contradizendo o pai da genética.
O princípio de esho-funi, no budismo, focaliza esse ponto: esho é a combinação das primeiras sílabas de e-ho e sho-ho. Shoho denota o sujeito, dotado de vida, ou algo que realiza as atividades associadas à vida. Eho denota o objeto que apóia o shoho. Portanto, shoho são os seres vivos e eho o seu ambiente. Shoho comparado ao objeto material e eho a sua sombra, onde é impossível a sobrevivência de ambos isoladamente. O significado de funi, “dois como fenômenos, porém não dois como números”[7]
Portanto o significado de esho-funi é que “um ser vivo e o meio ambiente são dois fenômenos independentes, porém unos em sua existência fundamental”.[8] A sugestão é que ao estudarmos a hereditariedade, que supomos exercer forte influência na forma como pensamos e agimos em relação à vida, considerando a intrínseca relação do homem e seu meio ambiente, o Senhor Daisaku Ikeda nesse diálogo com Senhor Arnold Toynbee diz o seguinte:
“Acho que o estudo dos fenômenos da hereditariedade, se feito com essa idéia como base de investigação das relações mútuas entre corpos vivos, o meio em que vivem, poderia levar a novas e interessantes descobertas”. (IKEDA, 1995, p. 23).
Adquirir a autonomia dos sentimentos negativos da própria vida é perceber em si a capacidade de transformar as energias negativas do seu interior, sem exalar para o ambiente os gases com todas essas informações, diminuindo os ciclos vitais, que somos nós em extensão, ou sugando as energias positivas do outro, como ‘vampiros de energias’, ocasionando um grande desgaste físico nessa luta de recuperação, algo que precisamos refletir. Segundo Daisaku Ikeda, “(...) muitas forças se ocultam no mar da vida. Elas nos conduzem a ações conscientes e inconscientes. E, por outras maneiras, asseguram o trabalho do corpo”. (IKEDA, 1999, p. 25).


O DOMÍNIO DA MENTE SOBRE O CORPO

Existem pessoas vitoriosas e derrotadas na vida, as quais, a diferença e o porque, está nas escolhas que a pessoa faz ao longo da existência, “Cada um de nós faz os seus julgamentos de acordo com o estado do seu cérebro” (DAMÁSIO, op. cit., p.226), e os Dez Estados da Vida, que são estados inerentes a vida universal, micro/ macro, segundo a filosofia budista, que também identifica como nove as funções de percepções do espírito: ‘as nove consciências’, onde os cinco primeiros tipos de consciências são percepções sensoriais, obtidas através dos órgãos dos sentidos: os olhos, os ouvidos, o nariz, a língua e a pele, nos quais, em geral, para ativar esses sentidos precisamos de algum estimulo externo material, como por exemplo: o sabor de uma comida apenas é compreendido por alguém que a comeu, a dor da fome por alguém que a sentiu, etc...
Da sexta a nona consciência compreende as funções perceptivas da mente humana e têm origem em uma única mente.
A sexta consciência, presente em todos os seres possuidores de um sistema nervoso central, independente de grau de desenvolvimento. É o poder de integrar os cinco primeiros sentidos e fazer os julgamentos. O exemplo desse sentido é que, ao observarmos algo visualmente atrativo, mas com um odor desagradável, o repelimos. Corresponde ao instinto.
A sétima consciência representa o pensamento racional, o poder do pensamento. Faz julgamentos sobre os fenômenos percebidos pelos cinco sentidos e procura encontrar ordem e leis dentro deles, a luz de experiências passadas e das circunstâncias externas, característica exclusiva dos seres humanos, isto é, daqueles que possuem razão.
A oitava consciência seria o inconsciente imaginado por Freud, o repositório, o qual está oculto nas profundezas da mente humana, demonstrando (...) “que por trás de um aparente comportamento do ser humano, havia invariavelmente uma causa psicológica, É o que o budismo chama de lei de causa e efeito”. (TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, 2001, p. 11). Essa consciência arquiva as impressões recebidas pela mente e simultaneamente produz novas ações, tanto boas como más.
A nona consciência significa a imaculada, que se encontra na parte mais profunda do ser humano. É o ‘eu’ essencial que existe em todos nós, o estado de iluminação (Buda).
Na construção de um sentimento, a percepção do corpo é acompanhada pela percepção de certos temas relacionados a esse estado do corpo e pela percepção de um certo modo de pensar. (CAVALCANTI, 2005).
Construir um sentimento de amor incondicional a humanidade é adquirir a compreensão da expansão e do recolhimento dessa energia, usando o caminho do meio, que é a essência de tudo contida tanto no seu estado manifesto como latente, (TERCEIRA CIVILIZAÇÃO,2004, p. 13), onde práticas como T’ai Chi Chuan, meditações e estudo, com o sentido de perceber o momento da expansão do outro para o seu recolhimento, sem que haja desgaste de energia e sim uma troca harmoniosa, para gigantescas contribuições a vida universal.
A idéia é uma reforma interiormente direcionada como meta, conduzindo as pessoas a ter autonomia da sua vida com qualidade, percebendo a responsabilidade nas atitudes para consigo a cada instante e conseqüentemente para com o outro, ‘o corpo da recompensa e o corpo manifesto, nesse ambiente’, que “Com Spinoza aprendemos a lição:“A felicidade não é prêmio da virtude, mas a própria virtude”. Se a virtude é a essência do Ser, cabe-nos fazê-la brilhar”. (CAVALCANTI, op. cit., 2005).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUBER, Martin. (2004) Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben. – 8. ed. São Paulo: Centauro.
CAVALCANTI, Katia Brandão. (2005) Corporeidade e a Ética do Sentido da Vida na Educação: para florescer as sementes da pedagogia vivencial. Natal: Educação em Questão.
CAPRA, Fritjof. (1982) O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix.
DAMÁSIO, António. (2004) Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras.
DELORS, Jacques. (2003) Educação, Um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. (2002). Mini Aurélio, O minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
GOSWAMI, Amit. (2006) O médico quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura. Tradução Euclides Luiz Calloni, Cleusa Margô Wosgrau. São Paulo: Cultrix, 2006.
HUANG, Al Chung-liang. (1979) Expansão e recolhimento: a essência do T’ai Chi. São Paulo: Summus.
IKEDA, Daisaku. (1980) Diálogo sobre a vida. São Paulo: Brasil Seikyo Ltda.
SIMMONS, John. (2003) Os 100 Maiores Cientistas da História. Rio de Janeiro: DIFEL.
SOO, Chee. (1984) A Arte Chinesa do T’ai Chi Chuan O caminho Taoísta para a saúde física e mental. São Paulo: Martins Fontes.
TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, nº 396 (2001) Budismo e Ciência, Desvendando os mistérios da vida. São Paulo: Brasil Seikyo.
TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, nº 427 (2004) A teoria do nada: o que a ciência e o budismo dizem a respeito. São Paulo: Brasil Seikyo.
TERCEIRA CIVILIZAÇÃO, nº 445 (2005) Lei Mística, o caminho para a felicidade absoluta. São Paulo: Brasil Seikyo.
TOYNBEE, Arnold e IKEDA, Daisaku. (1995) Escolha a vida, um diálogo sobre o futuro. Rio de Janeiro: Record.




[1] www.kirlian.com.br
[2] Revista Terceira Civilização, nº 396 (2001) Budismo e Ciência, Desvendando os mistérios da vida. São Paulo: Brasil Seikyo, p. 12.
[3] Revista Terceira Civilização, nº 427 (2004) A teoria do nada: o que a ciência e o budismo dizem a respeito. São Paulo: Brasil Seikyo. p. 14.
[4] Revista Terceira Civilização, nº 396 (2001) Budismo e Ciência, Desvendando os mistérios da vida. São Paulo: Brasil Seikyo, p. 10.
[5] Ibid.
[6] Ibid.
[7] Ibid.
[8] Ibid.

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